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Bem-vindo de volta, fenômeno

por redação

Foi rebatizado o maior retorno esportivo de todos os tempos e comemorado em todos os meios de comunicação possíveis: jornais, televisões, rádios, redes e  mídias sociais de todos os tipos. Foi aplaudido por chefes de Estado, celebridades e esportistas.

Eldrick Tont Woods, nome “artístico” Tiger, é um daqueles personagens que realmente mudaram a história do esporte e não só a do golfe; um verdadeiro predestinado, um fenômeno no sentido literal da palavra, capaz de se destacar em qualquer modalidade esportiva se tivesse tentado. Escolheu o golfe, estimulado pela paixão maníaca de um pai sargento, a mesma paixão que explodiu nele, alimentada por um talento extrafino e por um carisma que o tornou famoso em todo o mundo e muito além das fronteiras de um simples campo de golfe. Um mito transversal, um ícone geracional, ídolo de milhões de crianças que cresceram sonhando em repetir as suas façanhas.

Uma coisa é certa: faltava a todos, mas principalmente ao golfe mundial, um Tiger que mantivesse a visibilidade alta de uma modalidade que também nos Estados Unidos começava a perder tacadas em termos de praticantes. E assim, após 1.876 dias de seu último sucesso, Tiger voltou a ser Tiger, ou seja, a vencer, e o fez em um domingo de fim de verão que dificilmente será esquecido. Levante a mão quem não exultou e não se emocionou diante de sua extraordinária marcha no Tour Championship, último ato decisivo da Copa FedEx 2018. Levante a mão quem não foi atingido por um intenso arrepio ao ver aquele mar impressionante de multidão romper as cordas do buraco 18 do East Lake de Atlanta para levá-lo simbolicamente ao triunfo, quase como se fosse o messias ressuscitado. A NBC, a emissora americana de TV que transmitiu o torneio, teve um aumento de telespectadores em relação à média dos torneios da Copa FedEx de mais de 200%, e aqueles 18 buracos finais foram os mais vistos de todo o 2017, exceto majors.

A parábola esportiva de Tiger é um eletrocardiograma enlouquecido feito de picos extraordinários, mas também de grandes e imprevistas quedas.

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A sua grandeza foi aquela de ressurgir do abismo, a humildade de se recolocar em jogo como se fosse o primeiro dia, a determinação férrea de também querer superar a adversidade maior e aparentemente intransponível, aquela de um físico que parecia já tê-lo abandonado definitivamente.

De 2008, ano do último major, o Aberto dos EUA, vencido no playoff contra Rocco Mediate, a 2017, o prontuário médico de Tiger Woods parecia mais o de um  jogador de futebol americano ou de rugby do que o de um profissional de golfe. As primeiras crises em um corpo aparentemente de aço, forjado por horas e horas de intensa, mas geralmente errada, academia, são datadas precisamente de 2008: primeiro o joelho esquerdo, submetido a artroscopia, depois as lesões no mesmo joelho e nos tendões de aquiles direito e esquerdo e, enfim, durante a vitória em Torrey Pines, em junho, no Aberto dos EUA, a fratura por estresse da tíbia esquerda. Em 2010 é a vez do pescoço, com uma inflamação na articulação. Em 2011 ainda se viu envolvido com lesões desagradáveis no ligamento lateral do joelho esquerdo e no tendão de aquiles esquerdo, problema que se arrastou também no decorrer do ano seguinte. Cotovelo esquerdo e tornozelo direito em 2013, enquanto em 2014 foi submetido à primeira das quatro cirurgias nas costas já em pedaços. A última delas, em abril de 2017, até resultou na fusão de duas vértebras, L5 e S1, para que ele voltasse a caminhar sem sentir mais dor. “Tive medo de nem conseguir levantar do sofá”, lembra-se, “que dirá de voltar a jogar golfe.”

Para transformar um milagre médico também em um esportivo, foi preciso força e obstinação de um campeão que jamais se rendeu, que lutou dia após dia na esperança de poder voltar a suingar como antes, sem medo. Trabalhou fora dos holofotes, chegou a ocupar o 656° lugar daquele ranking mundial do qual foi o número 1 por 683 semanas, um recorde provavelmente destinado a permanecer eterno. Depois, o resto ficou por conta de seu talento indiscutível e da lucidez de um homem, já quarentão, perfeitamente consciente de suas forças e de suas fraquezas, capaz de se reconstruir primeiro no físico e depois na mente, para poder voltar ainda mais forte do que antes.

De 6 de outubro de 1996, dia em que venceu seu primeiro torneio do PGA Tour, o Las Vegas Invitational, a 23 de setembro de 2018, data de seu retorno ao sucesso no Tour Championship, conta-se um espaço temporal de 22 anos; com 80 títulos, agora está a apenas dois êxitos do recorde de todos os tempos, o de Sam Snead, que, de 1936 a 1965 (30 anos), venceu 82 torneios do PGA Tour. Woods está sete títulos à frente do grande Jack Nicklaus, que, no entanto, continua sendo o dono do recorde mais relevante do golfe, aquele dos majors, com 18 títulos contra os 14 que Tiger ostenta desde o longínquo 2008. Contudo, diante de um tão análogo quanto extraordinário renascimento esportivo e pessoal, nem mesmo o mito do Urso de Ouro já não parece tão ilusório.

Bem-vindo de volta, Fenômeno. 

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