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34 regras básicas e infinitas decisões para levar a bolinha do tee ao buraco

por redação

É preciso simplificar as regras de golfe para aproximar cada vez mais pessoas, ou pelo menos para que elas não se afastem…

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por_ Andrea Ronchi  | tradução Vania Andrade

Em um mundo sem regras reinaria o caos, mas o que acontece quando as regras são realmente muitas e complicadas demais? Banalmente poderíamos tomar como exemplo a Receita Federal em que, considerando as incontáveis leis, geralmente interpretáveis, cada cidadão corre o risco de ser pego pelo Leão. No entanto, vamos nos ater ao setor que mais gostamos e nos compete, o golfe.

Dados e pesquisas recentes revelaram como nos Estados Unidos a maioria das pessoas que gostariam de se aproximar do golfe não o faz porque acha difícil e complicado demais. Indiscutivelmente, uma dessas complicações está ligada às regras.

Qualquer jogador com handicap de jogo lembrará as horas passadas lendo o livrinho das regras, para se preparar para o exame de habilitação (NR: Na Itália, golfistas são submetidos a exames de regras para tirar o handicap). Começava pelas definições e, consequentemente, passando pelos fundamentos, chegava às exceções. Os mais precisos, como eu, ainda tiveram que ler todo o infinito livrão sobre as decisões.

Não extraímos tudo porque convivemos com essas regras pelo menos uma vez por semana, mas não é incomum ver jogadores tirar da taqueira “As Regras do Golfe” (o livrinho editado por Yves Ton-That da Expert Golf, muito bem ilustrado e fácil de usar), para decidir como agir durante o jogo de domingo.

Ninguém deseja questionar a existência das regras, nem discutir a sua exatidão. Não vamos nos alongar agora no fato de que seria necessária uma regra para poder colocar no jogo uma bola no fairway que erroneamente foi parar na grama depois de uma tacada perfeita, eliminando assim o fator sorte e premiando a habilidade. Simplesmente achamos que as regras do golfe são muitas, complicadas e, além disso, interpretáveis.

Os puristas ficarão horrorizados, mas o “notório ou quase certo” já é por si só uma contradição, como já era a “evidência racional”, dado que a razão é subjetiva. A mesma razão até hoje está em vigor para as obstruções que são movíveis quando podem ser movidas “sem esforço irracional”, que é proporcional ao físico de quem deseja removê-las (parece absurdo, mas na realização de um campeonato já vimos brigar sobre esse ponto). Qualquer professor de matemática poderia demonstrar a inexatidão do “ponto mais próximo onde colocar a bola em posição de jogo”, por causa da indefinibilidade da dimensão de um ponto.

R&A e USGA, que regulamentam o golfe mundial, a cada quatro anos revisam as 34 Regras do Golfe. Aquilo que, no entanto, defendemos é que deveria haver uma mudança radical para simplificá-las. Por quê? Experimente ler a definição de Água Ocasional: “Água ocasional é qualquer acúmulo temporário de água no campo, que não esteja dentro de um azar de água e que seja visível antes ou depois do jogador tomar seu stance. Neve e gelo natural são água ocasional ou impedimentos soltos, à opção do jogador. Gelo fabricado é uma obstrução. Orvalho e geada não são considerados água ocasional”. Tudo claro? Ótimo, agora explique isso a uma criança de seis anos ou a uma pessoa de 60 anos ou mais que, depois de uma carreira como tenista, em que a regra era “um único ricochete no máximo e bola dentro das linhas brancas”, tenha decidido jogar golfe.

Conhecemos árbitros de futebol que, convencidos de ter estudado por uma vida um regulamento que considerávamos complicado, se arrependeram, definindo-o como banal em relação àquele do golfe. Também vimos mães, bastante habilidosas em manter o equilíbrio de uma casa, tomar calmantes antes do exame. E ainda pessoas voltarem atrás ao lamentar os questionários para tirar a carteira de motorista.

Além disso, as exceções, complicações ou “tons” tornam a vida mais fácil para aqueles que não querem seguir as regras. Um exemplo disso está ligado aos conselhos: você pode perguntar distância, linha de jogo, obstáculos, posição da bandeira, de que lado o vento sopra e até como foi executada uma tacada, mas não qual taco foi utilizado. O número estampado na sola não se pode perguntar, com a consequência de duas tacadas de penalidade. A regra não especifica qual penalidade seria aplicada em caso de dar uma espiada, por isso, geralmente, se ensina a “fazê-lo com discrição”! Se, ao invés, quem jogou tivesse que dizê-lo sem que você tenha perguntado, não tem nenhuma punição. Não seria mais fácil permitir a qualquer um dizer o que quer ou proibir de falar do jogo? Seria tudo mais fácil e ainda com a vantagem de aproveitar um belo dia ao ar livre, limitando nosso estresse apenas às tacadas erradas, o que já não seria pouco.

P.S. – Somos totalmente contra aqueles que infringem as regras, especialmente se de má fé. No entanto, nos contaram que geralmente autoridades, árbitros ou jogadores fanáticos por regras assumem um comportamento aparentemente hostil contra aqueles que cometem erros, recorrendo a sofismas e se perdendo em infinitas discussões que, às vezes, resultam em brigas, devidas a interpretações divergentes. Achamos que um dia dedicado ao golfe deveria ter o único objetivo de distração e diversão. A competição, que conota os torneios dominicais, só existe no papel já que, quem não flerta com o par do campo, de competidor não tem quase nada. Ainda bem!

AS MENOS AMADAS E AS MAIS “CONTESTADAS”

Pesquisando na internet encontramos inúmeras intervenções nos países anglo-saxões sobre as Regras do Golfe que são “digeridas” da pior maneira pelos golfistas. A seguir as mais interessantes.

Out of bounds (fora do limite)

São muitos aqueles que não entendem por que a penalização por não ter respeitado as fatídicas hastes brancas (tacada e distância) é mais pesada do que aquela imposta para as hastes vermelhas (água lateral). Se depois de um belo drive acima das 270 jardas a bola vai parar fora em um centímetro, se é obrigado a voltar ao tee de partida e dar a terceira tacada. Já no caso de bola na água, aplica-se somente a penalidade. Por quê? Muitos britânicos e americanos se perguntam.

Um taco ou dois tacos?

Para simplificar as Regras do Golfe e torná-las mais fáceis de observar, há quem destaca a diferença entre colocar a bola numa posição normal de jogo a um e a dois tacos de distância. E ao mesmo tempo também se pergunta o que mudaria em relação ao espírito do jogo caso se unificassem as duas situações…

Bola no green que bate na bandeira

Com certeza estamos de acordo que tirar a bandeira do buraco seja a melhor coisa. Entretanto, se todos estamos – vamos dizer – no início do green e a bandeira está no fundo, talvez a mais de 20 jardas, ir para frente e para trás é uma perda de tempo inútil. Depois, por que devemos sofrer uma penalização de duas tacadas se o nosso companheiro de jogo não faz o que tem que fazer, não tirando a haste? Uma vez essa era a tarefa dos caddies, hoje em dia quase extintos nos golfes ocidentais. Além do mais, duas tacadas de punição se faço a abordagem acima do monte não parece uma contradição?

Bola batida no green

Esta regra caminha junto com a anterior. O seu colega não marcou a bola dele e você está totalmente fora da rota com a sua, então acaba batendo a bola dele. A repreensão é pesada: duas tacadas de penalidade. Contudo, não marcar no green certamente ajudaria a acelerar o jogo e, além disso, se o impacto chega de fora do green, não há nenhuma penalidade. Portanto, não poderíamos somente nos limitar a reposicionar a bola batida?

Vamos simplificar! Como? A seguir, alguns exemplos simples propostos pelos leitores.

A areia pode ser removida do green, mas não do percurso. Não seria melhor deixar removê-la também do fairway e em torno do green?

No green são reparados divot e buracos velhos, mas outros sinais não. Se o objetivo é não danificar a linha, seria mais justo permitir que reparassem qualquer dano.

Hoje existem dois tipos de obstáculos de água com modalidades diferentes a resolver. Qual é o problema em deixar apenas um, unificando a colocação da bola na posição aceitável de jogo?

Hastes azuis, vermelhas, amarelas e sinalizadores de distância podem ser removidos, aqueles brancos do fora de limite não! Não seria o certo remover todos eles?

Bola parada que é deslocada hoje contempla muitas variáveis. Não se poderia estabelecer que fosse sempre penalidade sem infinitas exceções?

APLICAÇÕES PRÁTICAS

Nas imagens abaixo, confira alguns casos cujos protagonistas são os grandes jogadores profissionais dos torneios mundiais que se tornaram famosos pelo clamor do erro ou pelo exemplo de esportividade.  Quando se discute sobre regras específicas ou situações complicadas, acabamos nos esquecendo do lado divertido do conhecimento das Regras do Golfe e da sua aplicação. Confira alguns casos, aparentemente fora dos esquemas, mas sempre administrados pelas regras.

1 - MOVER UM IMPEDIMENTO SOLTO – R 23
2 - MOVER UM IMPEDIMENTO SOLTO – R 23
3 - JOGAR A BOLA COMO SE ENCONTRA – R 13-1
4 - BOLA EM OBSTRUÇÃO MÓVEL – R 24-1
5 - ALTERAR O LIE ONDE SE DEVE COLOCAR OU RECOLOCAR A BOLA – R 20-3B

1 e 2  –  MOVER UM IMPEDIMENTO SOLTO  | R 23

Segundo as definições um “impedimento solto” é qualquer coisa natural que não seja fixa ou vegetante. Nesse grupo podemos considerar: folhas, gravetos, galhos, insetos, pedras… Pedras como aquela que impediu Tiger Woods de impactar a bola no decorrer do jogo do buraco 13 (par 3) no TPC Scottsdale de 1999, para o Aberto de Phoenix. Até agora nada de excepcional se não fosse que aquela pedra era, na realidade, um senhor pedregulho. Solução? Movê-la. Tiger sozinho nunca teria conseguido, assim intervieram alguns espectadores que, com um grande esforço, moveram “o impedimento solto”. Nada nas Regras do Golfe impede tal procedimento.

3 – JOGAR A BOLA COMO SE ENCONTRA | R 13-1

Esta é a Regra principal da exatidão esportiva e o parágrafo 1 diz isso de modo tão claro quanto sintético: “a bola deve ser jogada tal como se encontra”. No buraco 10 (par 4) do Arnold Palmer Invitational de 2013, Sergio Garcia efetuou o seu tee-shot e a bola foi parar no lado direito do buraco. Após um momento procurando, a bola foi encontrada em cima de uma árvore , em uma posição estranha, mas que dava para jogar. Sergio Garcia, após analisar a situação decidiu jogar a bola “do jeito que ela se encontrava”, subiu na árvore e após ter estudado a tacada a jogou. A tacada foi discreta, já a descida da planta nem tanto, causando uma torção no tornozelo do espanhol.

4 – BOLA EM OBSTRUÇÃO MÓVEL | R 24-1

Uma obstrução é tudo que seja artificial, inclusive as superfícies, guias e sarjetas artificiais de ruas e caminhos, e gelo fabricado […]. Uma obstrução é móvel se puder ser deslocada sem muito esforço, sem atrasar indevidamente o andamento do jogo e sem causar estragos. Caso contrário, é uma obstrução fixa. Um caso bem particular e muito curioso: Uma bola, após ter sido jogada da área de partida, atingiu uma planta e foi parar no bolso de um espectador. Isso aconteceu no buraco 14 (par 4) no decorrer do Tour Championship Coca Cola de 2011. O jogador autor desse “feito” nada fácil era Rory McIlroy. Quando chegou o ponto de saber onde a sua bola estava, descobriu que ela tinha ido parar dentro do bolso de um espectador que, corretamente, não tinha mudado de lugar. Rory, com um procedimento correto, recolocou a bola em jogo: marcado com um tee o ponto no campo, imediatamente abaixo do ponto onde a bola tinha parado, a colocava de novo em posição de jogo.

5 – ALTERAR O LIE ONDE SE DEVE COLOCAR OU RECOLOCAR A BOLA  | R 20-3B

O jogador deve recriar o lie originário o melhor que puder, molde incluso, e situar a bola naquele lie. Este caso passará para a história como um exemplo de esportividade e plenamente de acordo com o “Spirit of the Game” (Espírito do Jogo). No decorrer da busca pela bola jogada por Emanuele Canonica no buraco 9 do Aberto da Itália de 2008 em Tolcinasco, espectadores entusiasmados demais modificaram a área em que a bola dele se encontrava. A erva alta do rough foi esmagada, para permitir ao jogador uma tacada melhor. Canonica, esportivamente, recriou o lie original da bola demonstrando um ótimo conhecimento das Regras do Golfe.

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