Por Durval Pedroso
Eu, por formação ou deformação, sou um otimista juramentado. Por isso, neste artigo, gostaria de compartilhar com os amigos leitores uma visão do lado bom desta pandemia, uma vez que, pelo lado tenebroso, a grande mídia quase nos levou à loucura. Este toque de Midas, que meus parceiros portugueses ligados ao golfe, ao turismo e ao mercado imobiliário chamaram de Ouro da Pandemia, pois este fenômeno também ocorreu em Portugal, como aqui no nosso Brasil.
O primeiro fenômeno positivo sentido já em meados de abril, do ano passado, foi com relação aos condomínios residenciais fora das grandes capitais, no caso brasileiro São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Porto Alegre, e no caso português a cidade de Lisboa. Especialmente os condomínios com campo de golfe que receberam um novo público ávido para passar a quarentena num ambiente mais arejado, em contato com a natureza, que permitisse melhor qualidade de vida para todos os membros da família e até para seus pets. A realidade do home office, que tende a uma ampliação nunca antes imaginada, a perspectiva de possíveis novas ondas do vírus, junto com a menor de taxa de juros nunca antes praticada no país, deram um verdadeiro toque de Midas no mercado imobiliário.
O segundo efeito positivo, e consequência do acima comentado, foi para os clubes de golfe, que tiveram um aumento considerável de novos sócios, e em alguns casos dobraram o seu número de associados. Os clubes nos grandes centros ficaram muito mais tempo totalmente fechados. Esse fenômeno foi praticamente universal.
Um terceiro efeito positivo da quarentena, um verdadeiro toque de ouro, ocorreu mais precisamente com os campos de golfe, que, ao ficarem quase quatro meses em lockdown para a prática do esporte, geraram resultados positivos que começaram a aparecer nos últimos três meses de 2020, com a abertura e com a volta das atividades quase ao normal. Especialmente aqueles cujas diretorias de campo mantiveram pelo menos 50% do seu pessoal de manutenção ativos, conseguiram recuperar e elevar o seu padrão de fairways, tees e greens. A ausência dos jogadores eliminou o aparecimento dos divots nos fairways e nos tees, permitindo a recuperação do gramado em sua plenitude. Como também a ausência de pisoteamento e piques de bolas deu uma nova vida aos greens na maioria dos campos. Os clubes que aproveitaram o período para fazer a areação de todo o seu gramado, aqui incluindo os fairways e os greens, hoje têm um campo em melhor estado e, em alguns deles, como não tiveram em dezenas de anos. Os administradores dos campos, que puderam fazer os mais diversos testes de manutenção, conhecem hoje melhor seus fairways e greens. Mesmo nos melhores campos, com as maiores verbas de manutenção, este período da pandemia permitiu a correção de partes dos greens que sofriam mais com o pisoteamento e com irrigação não uniforme do seu solo.
Os especialistas, entre eles green keppers, agrônomos e outros, me disseram que este período de paralisação de atividades esportivas deu aos gramados uma revitalização como eles nunca conseguiram. Por isso, meus queridos jogadores de golfe que voltaram a praticar o nosso esporte preferido, precisamos, agora mais do que nunca, ao constatarmos a melhoria dos nossos campos, entender de uma vez por todas a importância dos cuidados de reposição de divots nos fairways e de correção dos piques de bolas nos greens.
O último efeito positivo desta terrível pandemia, obviamente no olhar dos golfistas, o qual espero que, no futuro, reconhecido como uma virada do nosso turismo interno, é o fato de os jogadores de golfe, antes, acostumados a viajar pelo mundo para jogar nos mais diversos campos, na América do Norte, do Sul ou na Central, na África (aqui especialmente na África do Sul) e na Europa, onde destaco Portugal, Espanha e Escócia, se viram proibidos de viajar para seus destinos preferidos. Por isso, gostaria de chamar a atenção dos empresários, hoteleiros, donos de restaurantes, de pousadas, lojas, organizadores de eventos e todos aqueles que possam dar aos nossos destinos de golfe algo diferenciado para o nosso turista curtir, para este momento ímpar que estamos vivendo. Oferecer roteiros de golfe inteligentes e a preços compatíveis com o real usufruto do golfista, seja na região dos Vinhedos da Serra Gaucha, onde temos ao menos dois campos nos arredores, na região de Foz de Iguaçu, na Bahia (especialmente em Trancoso) ou em Fortaleza, só para citar alguns destinos.
* Durval é economista e golfista
(artigo publicado na ed 70 da Revista Golf & Turismo)