A arte do golfe
“O drive no buraco 1 e o putter no 18 são como o abrir das cortinas no início da peça e os aplausos no final”.
Campeão em vários torneios e handicap 8.9, o ator global Rodrigo Lombardi começou a jogar em 2009 por influência dos amigos e também atores Humberto Martins e Marcos Pasquim. Em outubro, conquistou o Aberto do Itanhangá Golf Club, na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, pelo segundo ano consecutivo. Após o torneio, postou no Instagram (onde tem 3,4 milhões de seguidores) que a vitória era resultado de treino, foco e resiliência. “Agora, rumo à categoria scratch!”
Um dos seus primeiros troféus de campeão foi em 2011 no V Open de Golf Club Med, disputado no Terravista Golf Course, em Trancoso, na Bahia, onde conheceu o mais bonito cartão-postal do golfe brasileiro, o buraco 14, par 3, desenhado por Dan Blankenship. No ano passado, Lombardi também foi campeão do torneio organizado por Galvão Bueno e Álvaro Almeida, o Bem Amigos de Golfe, nos Estados Unidos. “São muitas emoções reunidas em um único esporte. Em cada jogo, uma surpresa. Venha, conheça, experimente, e tenho certeza que você vai se apaixonar”, disse recentemente o ator aos seus.
Dentro de casa, ele já conta com um parceiro, o filho Rafael, de 12 anos, empolgado com as primeiras tacadas. Pelos campos, também conta com outros companheiros famosos, como Giovane Gávio, Rubens Barrichello, Ronaldo Fenômeno, Jorge Ben Jor, Tadeu Schmidt e Tita. Atualmente, Lombardi está treinando para conseguir baixar seu handicap no próximo ano para se tornar um jogador scratch. “Acho que consigo manter um handicap 6, mas com bastante treino”.
Confira a entrevista, concedida no Itanhangá Golf Club:
COMO CONHECEU O ESPORTE?
O Humberto Martins me ensinou a jogar. Foi o primeiro cara que me levou no Banana Golf, driving range, no Recreio dos Bandeirantes, que já fechou. Mas eu conheci o golfe através do videogame, na casa do Marcos Pasquim. Não acreditei quando o vi jogando com o console. Ele me disse que era muito bom, divertido. Começamos a jogar juntos, e fiquei vidrado. Comprei o jogo, comecei a jogar também e, em 2009, fiz a novela “Caminho das Índias”, com o Humberto Martins. Soube que ele jogava e fiquei atormentando-o para que me levasse junto. Foi quando conheci o Banana no dia 29 de julho daquele ano. Nunca mais parei. Quer dizer, parei muito por causa das gravações, mas me apaixonei pelo esporte desde o primeiro dia, e no segundo dia, já havia comprado uma bolsa de golfe.
O QUE É O ITANHANGÁ PARA VOCÊ?
O Itanhangá é o meu porto seguro no Rio de Janeiro. Moro perto do clube, meu filho estuda perto, a minha vida é muito próxima ao clube. É como se fosse o quintal da minha casa. Poder vir para cá todo dia em que não estou trabalhando é um privilégio. É um lugar lindo, e o golfe é uma meditação. Repensamos a vida, revemos conceitos e fugimos do caos do dia a dia. Devido a tudo isso, o Itanhangá é muito importante para o meu crescimento como ser humano. Tenho tido uma experiência muito bacana aqui para o meu jogo: às sextas-feiras jogo com os profissionais, todo mundo sem handicap e saindo do tee dourado. Percebi que quanto mais distante o tee de saída, melhor para o meu jogo, porque saio de todos os objetivos iniciais. Tenho jogado melhor no 18, considerado o vilão, do que no 1. Não tem buraco fácil no golfe.
EXISTE ALGUMA RELAÇÃO ENTRE GOLFE E TEATRO?
No golfe, todo dia é uma nova experiência, como no teatro. Não é sempre a mesma história. Para contar uma história no teatro, os primeiros cinco minutos de peça servem para entender a respiração da plateia e como estão reagindo, ou seja, como é o público de sexta, de quinta, de sábado, de domingo. São diferentes, são reações distintas. São eles que vão ditar como será aquele espetáculo. Já no golfe, o sol, a chuva e o vento é que vão ditar como será o seu jogo, bem como a maneira como você dormiu, como acordou, se está com problema em casa, se está acelerado ou não. O buraco 15, por exemplo, é um par três fácil. Quantas bolas são perdidas ali, penso. É um pitizinho supertranquilo, mas quantas bolas eu não deixei na água. Já mandei bola até fora de campo ali. O golfe lhe traz a humildade necessária para o dia a dia. Esse é o ensinamento mais importante.
QUAL FOI O PRIMEIRO TROFÉU?
O primeiro título foi também o meu primeiro torneio. Fui conhecer o Damha Golf Club, em São Carlos (SP), e o Carlão, presidente do clube, insistiu em jogar. Não tinha nem handicap. Ele perguntou há quanto tempo eu estava treinando, respondi há dois meses. Ele disse “vou lhe dar 32 de handicap, porque você está começando a jogar”. Joguei e fui campeão.
COMO FOI SUA VITÓRIA NO ABERTO DO ITANHANGÁ?
Eu ganhei este torneio quando pus na minha cabeça que já tinha perdido. No primeiro dia, joguei 37 a primeira volta e fui mal na segunda volta. Fui embora para casa muito bravo comigo mesmo. No segundo dia, falei: vou jogar bem a primeira volta e vou jogar a segunda volta, que é o que eu jogo, um 38, 39, que para mim é incrível. Saí com duplo bogey. No buraco dois caí na banca. Estava todo mundo do outro lado, e eu fui me ajeitar na bola, encostei o taco, me penalizei, fiz outro duplo bogey, aí já considerei ter perdido o campeonato. Do três ao nove fiz par. E joguei 38 ou 39 na segunda volta, que era o meu jogo. Quando estava no último tiro do 18, que era um sand para o green, falaram “capricha nesse que teu nome vai para a pedra (ser campeão)”. Não levei a sério. Dei um bom tiro, fiz par no último buraco. Disseram que eu tinha ganhado, mas não acreditei. Quando confirmaram, ainda permaneci cético, mas depois foi só alegria.
PRATICOU OUTROS ESPORTES?
Antes de ser ator, fui jogador de voleibol em São Paulo. Fiz todas as categorias de base, mas, como não cresci muito, tive que parar. Foi quando conheci o teatro e segui com ele pela minha vida inteira. Tive também contato com outros esportes, como vôlei de praia, futevôlei e futebol. Recentemente, conheci o jiu-jitsu, mas tive que parar por um problema na coluna, mas já estou resolvendo e logo volto a treinar. O golfe, no entanto, é a grande paixão.
QUAL A MAIOR DIFICULDADE DESSE ESPORTE?
Ainda estou tentando descobrir. É um esporte muito difícil para se começar, principalmente quando se inicia tarde. Com o tempo, vai ficando ainda mais difícil. Desde pequeno, quando temos um pedaço de pau na mão e uma bolinha, a gente quer acertar, como no jogo de taco na rua. Essa relação do golfe é uma mistura de beisebol com xadrez, porque você tem que ver variantes e variáveis durante todo o percurso. Precisa saber que não é só sobre bater longe. Tem toda uma estratégia de jogo, e isso é apaixonante. O golfe é o esporte mais difícil do mundo. Qualquer esporte é relacionado ao condicionamento. Tudo fica mais difícil quando o jogador está parado e a bola parada. No tênis, por exemplo, o saque é a parte mais difícil do jogo porque é totalmente técnico.
QUAIS SEUS CAMPOS PREFERIDOS?
Adoro o Terravista, em Trancoso, e amo o Itanhangá. Acho o São Fernando um campo extremamente competitivo. Costumo jogar muito bem no São Paulo, mas o melhor em que já joguei no Brasil é um campo particular, o Santapazienza, em Itatiba. É o campo que todo mundo fala, é o campo que todo mundo quer conhecer. É muito bem desenhado e aproveita bem a topografia do terreno. Lá você tem todos os tipos de tiro. Tem par cinco de seiscentas e tantas jardas. As bancas são incríveis, enormes e profundas. Parece que você está no Deserto do Saara. Gosto muito do Damha, que é um campo lindo, bem cuidado, técnico e muito gostoso de jogar. Eu não posso deixar de citar o Campo Olímpico, que é importante, um tipo de campo que a gente praticamente não vê muito no Brasil. São campos que oferecem uma dificuldade que não está aparente, mas, quando for jogar em Búzios ou no Campo Olímpico, leve a bolinha, porque você vai precisar.
COMO FOI CONHECER O BURACO 14 DO TERRAVISTA PELA PRIMEIRA VEZ?
É um local paradisíaco. Dá frio na barriga, porque, quando você vai dar a tacada, parece que você vai pular a falésia. É uma sensação inexplicável, uma adrenalina muito grande. Uso um pitch e, se o vento estiver contra, um ferro nove. A sensação de passar aquela pirambeira é uma loucura. Só quem joga para saber como é ver a bola cair naquele green. Quando você joga golfe contra a natureza é uma sensação indescritível.
JÁ FEZ HOLE-IN-ONE?
Já fiquei a meia rolada de bolinha, mas ainda não fiz. Já vi dois hole-in-ones na minha vida. Mesmo quando você vê o amigo fazer, é emocionante. Parece que tomou um choque, é uma loucura. Pode ser um buraco curto, mas acertar com uma só tacada é sensacional. Já emboquei de distâncias maiores do que um par três. Mas o hole-in-one ainda não chegou. Estou perseguindo.
DOS AMIGOS, QUEM JOGA MELHOR?
O melhor nível de jogo de todos tem fases. O Marcos Pasquim está em uma ótima fase. O Tadeu Schmidt é fanático por golfe e tem um jogo muito bacana. Rubens Barrichello talvez seja o jogador mais constante de todos eles. Já o Giovane Gávio, se aproveitar toda a alavanca que tem no corpo, vai dar inveja ao Dustin Johnson. Mas, de todos, o Tita, ex-craque da seleção de futebol, é o que tem o melhor nível de jogo.
COMO CONVIDAR UM AMIGO?
A primeira coisa que tento é quebrar esse preconceito com o golfe. As pessoas acham que é um esporte chato. Para quem não joga, assistir pode parecer, realmente, chato. Mas a partir do momento que você tem um pouquinho de entendimento do jogo, assisti-lo se torna praticamente um filme de aventura. É preciso se permitir conhecer. Estou tentando trazer dois amigos, Renato Goes e Mouhamed Harfouch, que já se dispuseram a vir dar umas tacadas e fazer aulas.
O MAIOR PRAZER É O DRIVE NO BURACO 1 OU O PUTTER NO 18?
São duas sensações extremas. Para mim, é a mesma coisa de precisar decidir entre a abertura das cortinas no teatro ou os aplausos no fim da peça. Um complementa o outro. Às vezes, quando você está para dar seu primeiro tiro no buraco 1, ainda tem a expectativa de como será o jogo. Assim, planeja, monta a estratégia na cabeça, mas tudo isso vai acabar na segunda tacada do buraco 1. Então, a expectativa do que vai ser o jogo é muito gostosa, e a tristeza, entre aspas, no seu último putter do 18. Eu sempre acho uma pena já ter acabado, mas, ao mesmo tempo, é uma maravilha. Digo “obrigado, Deus, por eu ter jogado esses 18 buracos hoje”.
(Conteúdo publicado na edição 70 da Revista Golf & Turismo)