O treinamento é determinante para incrementar o nível do jogo e, consequentemente, os resultados em campo. Mas qual é o melhor método para torná-lo realmente eficaz? Neste artigo o treinador Christian Swann sugere algumas técnicas especiais que tornam o tempo que se passa no driving range produtivo e a prática mais dinâmica
por _Christian Swann* | tradução de Vania Andrade
Em qualquer esporte, a qualidade da prática é determinante para o melhoramento do atleta. Na maioria dos esportes, os treinadores ou os administradores decidem como o atleta deve treinar. Já no golfe, essa tarefa compete quase inteiramente ao jogador, que deve se estruturar no tempo de prática, qualquer que seja o nível de jogo.
Se, por um lado, os melhores jogadores do mundo sabem praticar de modo eficaz, botando para fora o verdadeiro potencial no campo, do outro, os amadores geralmente tem que quebrar a cabeça por conta própria, antes de conseguir entender a importância de uma prática correta. Quantas vezes ouvimos contar sobre a dificuldade de conseguir transferir para o campo o jogo do campo de prática? Investir tempo e esforços sem ver melhoras pode ser frustrante, acabar com a confiança em suas capacidades e diminuir a diversão.
Todavia, integrando os princípios da psicologia do esporte, é possível estruturar as sessões de prática e aumentar, consequentemente, as probabilidades de melhorar, jogando no campo à altura de suas capacidades. Para demonstrar essa teoria, o próprio campeão Phil Mickelson afirmou que o trabalho dele no aspecto psicológico se baseia exclusivamente nas modalidades de treinamento.
Sempre do mesmo jeito…
Muitos golfistas praticam dando tacadas nos mesmos alvos e com os tacos preferidos. Portanto, um treinamento pouco estruturado e, com certeza, não muito bem planejado, sem um objetivo estabelecido ou, todavia, sem objetivos realmente verificáveis na sessão de prática. Geralmente, não se pensa no que se gostaria de obter da prática ou no que precisaria fazer para alcançar um determinado objetivo… Assim, o swing acaba sendo feito sem que se tenha a mínima ideia do que realmente se esteja fazendo.
Fazer swing e bater centenas de bolinhas com essas modalidades certamente pode levar à aquisição de hábitos, mas não é uma prática de qualidade. Como mais de um psicólogo do esporte observou, é um ótimo exercício, mas pouco eficaz. Na verdade, essas sessões de prática podem geralmente dar ao jogador a sensação de não ter obtido nada e, portanto, não perceber nenhuma melhora para levar em campo.
Pratique com intenção…
A partir da pesquisa sabemos que é necessário acumular grandes quantidades de prática ‘intencional’ para atingir altos níveis de desempenho no esporte, além de ter uma melhora tangível e real.
Isso significa que uma prática limitada em termos de tempo, mas eficaz em termos de qualidade, com um objetivo claro e concentração máxima, com uma probabilidade maior leva a um melhoramento, ao contrário das tantas horas passadas no campo de prática, sempre do mesmo jeito e com pouca concentração.
Um jeito simples e rápido para tornar a prática mais ‘intencional’ é jogar um número menor de bolinhas, somente 40 ou 50 tacadas cheias, que coincida mais ou menos com o número de tacadas que se deveria fazer em campo. Resista à tentação de jogar 100 bolinhas pensando pouco ou em nada. Ao contrário, jogue as tacadas como faria em campo, pelo menos por uma parte de sua sessão de prática: repita a rotina antes da tacada, escolhendo entre os vários tacos e jogue para vários alvos.
Nick Faldo é um mestre também no que se refere a essa técnica, usada no decorrer de sua carreira e levada a um limite de se imaginar em pé no tee do 1, bater o primeiro drive e continuar o giro virtual no campo, jogando exatamente as tacadas que esperava jogar realmente no torneio.
Outra boa ideia é dividir em pequenos grupos o número total de bolinhas que está prestes a jogar. Por exemplo, se tiver um balde com 100 bolinhas, jogue 10 por vez e faça uma pausa após cada grupo para reavaliar a execução das tacadas ou escolha outro taco, um alvo diferente ou qualquer coisa de diferente em que trabalhar. O princípio é aquele de fazer um teste diferente de capacidade.
Naturalmente, se realmente quiser trabalhar na técnica e no desempenho, é necessário que torne a sua prática competitiva, consequentemente, confrontando-se com outros jogadores ou criando desafios com você mesmo, para dar uma finalidade à prática e melhorar a atenção para identificar objetivos claros. Isso aumenta o nível de concentração e coloca o swing um pouco sob pressão, algo, de qualquer modo, produtivo (os exemplos fornecidos ajudarão a praticar de maneira intencional e competitiva).
Aprenda a entender quando parar. Pratique com um alvo em mente e, uma vez alcançado o objetivo, finalize a prática. Atingir os objetivos aumenta a confiança e a motivação, mas quando se pratica demais por muito tempo e sem atenção, corre o risco de se cansar, perder a concentração, aumentar a tensão e reduzir a produtividade.
Meça e anote suas capacidades
A maioria dos jogadores durante a prática baseia-se em um feedback subjetivo como, por exemplo, o feeling no swing ou o quão bem se bate a bolinha. Passam-se geralmente sessões de prática inteiras buscando trabalhar nessas sensações, à procura de uma segurança, que na maioria das vezes é, porém, temporária. Além disso, essas percepções são difíceis de monitorar com o passar do tempo e podem mudar toda vez que se pratica, sendo o swing um movimento muito complexo. Consequentemente, praticar dessa forma pode proporcionar só uma vaga ideia do melhoramento.
Já praticar com a cognição daquilo que se faz dará um feedback melhor, algo que ajudará a medir o desempenho com mais confiança, a progredir e entender a entidade do melhoramento.
Controlar e tomar conhecimento da performance aumenta motivação e confiança com o passar do tempo, e melhorar a concentração nas sessões de práticas leva a uma produtividade maior, assim como, identificar os resultados atingidos e entender o que está bom na sua prática e no seu desempenho.
Por exemplo, quando for trabalhar no jogo curto ou nas abordagens, utilize um sistema de pontos que recompensa quanto mais a bola estiver perto do buraco. Trabalhando nos chip em torno do green, se poderia atribuir 5 pontos a cada bolinha na medida de um taco do buraco; 3 pontos na medida de dois tacos e 1 ponto na medida de três. E para tornar as coisas mais difíceis, poderia baixar um ponto para cada bolinha que termina a mais de três tacos do buraco.
Utilizar esse sistema com 10 ou 20 bolinhas de distâncias variadas ou posições diferentes em torno do green ajudará você a registrar o número de pontos totalizados para cada grupo de chip ou pitch.
O mesmo princípio pode, ou melhor, deveria ser aplicado também da banca de prática e, consequentemente, estendido afastando-se do green, para trabalhar de determinadas distâncias na solidez do jogo com os ferros.
Tomar nota das sessões de prática permite definir metas individuais que melhoram sucessivamente e com quanto mais frequência o fizer, mais competitiva será a sua prática e melhor a qualidade do jogo que depois experimentará no campo.
Trabalhando no jogo longo, fica mais fácil medir a prática, definindo qual é ou não uma boa tacada. Experimente batendo 10 bolinhas, depois analise e anote a sua performance e, principalmente, anote as tacadas bem-sucedidas. Assim você terá um feedback claro, útil para estabelecer os objetivos e estar consciente das melhoras no decorrer do tempo.
Quando for dar tacadas retas, defina limites em ambos os lados do alvo, por exemplo, 5 metros, e conte quantas das 10 tacadas ficam no campo. Com essa técnica é possível imaginar as bordas do green, o que torna a prática mais realista, dar mais importância às tacadas que executa e treinar o jogo sob pressão.
O mesmo princípio pode ser usado se quiser se exercitar nos efeitos sobre a bolinha, buscando consequentemente dar tacadas que terminam na parte certa da bandeira. Por exemplo, se fizer um fade em uma bandeira posicionada à direita do green, é bem melhor que a bolinha vá parar do lado esquerdo do alvo (consequentemente, no green) do que demais à direita. Visualize uma mira precisa que indique onde você deseja que a bolinha vá parar, além de um limite dentro do qual a bola pode se mover no ar (por exemplo, apontar 10 metros à esquerda da bandeira e fazer com que a bolinha gire 5 metros no voo).
Para obter um ponto, a tacada deve ficar entre esses dois alvos e acabar na parte certa da bandeira. Jogue 10 tacadas anotando quantas foram parar do lado certo do alvo. E depois, de novo, fixe um alvo, concentre-se e jogue 10 ou 20 bolinhas, contando quantas são aquelas jogadas bem. Se conseguir com facilidade fazer a bolinha girar em ambas as direções, poderá usar o mesmo exercício para os draw (os jogadores mais habilidosos deveriam experimentar, para qualquer tipo de efeito, tacadas altas, médias e baixas).
No final de cada sessão de prática é importante raciocinar sobre os resultados e avaliar o desempenho, identificando os pontos fortes e fracos, para que você se concentre nas áreas que mais precisa. Anote os resultados em um ‘diário de prática’. Com o tempo será o instrumento mais precioso para melhorar.
Torne a prática casual
Outro modo para praticar corretamente é experimentar as mesmas condições que poderiam acontecer no campo, onde há uma única possibilidade de jogar determinada tacada, sem poder modificá-la para testá-la ainda. Depois da maior parte das tacadas, se caminha por alguns minutos até a bolinha ou se espera que os outros joguem. É necessário tomar decisões claras sobre onde jogar a bolinha, que taco usar, que tipo de swing fazer, qual é a melhor trajetória e assim por diante.
Jogar centenas de bolinhas no campo de prática com o mesmo taco e para o mesmo alvo não reproduz da melhor forma as verdadeiras condições de jogo.
Se de um lado esse tipo de prática poderia ser útil para trabalhar em uma mudança do swing, do outro se demonstrou mais ineficaz para manter no tempo as capacidades adquiridas e é, além disso, ineficaz para tornar o jogo competitivo, já que o ambiente é estável e previsível e o jogador consegue “se ajustar” de uma tacada à outra. Uma prática parecida também pode resultar numa confiança falsa das suas capacidades que, consequentemente, não se mantém quando se joga no campo.
Como afirma Luke Donald, “variar a prática é melhor do que jogar continuamente as mesmas tacadas” e, na maioria dos casos, é mais produtivo tornar a prática casual. O ideal é a cada tacada experimentar escolher um taco diferente e jogar na direção de um alvo diferente.
Em alternativa, jogue com o mesmo taco, mas com alvos que tenham distâncias diferentes ou que requeiram diferentes tipos de tacadas (até mesmo os exercícios mostrados antes propõem apenas 10 tacadas, justamente para evitar fazer sempre as mesmas tacadas, rumo ao mesmo alvo e durante toda a sessão de prática).
Tornar a prática casual ajudará você a passar pelos mesmos processos mentais de escolha do taco e da tacada, visualizando a trajetória desejada e reproduzindo um swing correto para a distância a fazer. Isso, por sua vez, ajudará a desenvolver habilidades cognitivas das quais terá necessidade no campo, além de manter suas sessões de prática atentas, interessantes e evitar fazer o swing sem ter uma ideia precisa.
Pratique com o alvo certo em mente
Quando os golfistas praticam, geralmente se concentram quase exclusivamente na técnica. Quase sempre se depara no combate com o swing ou em trabalhar em aspectos técnicos que pensamos que podem ajudar a dar boas tacadas. Alguns jogadores imaginam a prática como puro trabalho na técnica, principalmente, quando não estão jogando bem como gostariam.
Todavia, para jogar bem no campo, os psicólogos do esporte concordam com o fato de que a atenção deve se concentrar nos fatores externos, como o voo da bola (forma da tacada e trajetória), e nos procedimentos, como a repetição da rotina. Os pensamentos sobre a técnica do swing deveriam intervir o mínimo possível. Quando jogou o seu melhor, quanto teve a necessidade de pensar no swing? Provavelmente, ele veio quase que automaticamente e, na verdade nem chegou a pensar nele.
Portanto, para poder transferir no campo o jogo do campo de prática, é preciso praticar se concentrando nos fatores externos como o alvo e, pelo menos por algumas tacadas, evite pensar no swing. Além disso, praticar dessa maneira ajudará você a controlar a concentração no campo.
Pode ser uma boa ideia encerrar as sessões de prática dessa forma, principalmente quando estiver se aquecendo antes de um jogo, porque assim você se preparará psicologicamente para enfrentar o campo.
Conclusão
A estratégia ao praticar deve mudar continuamente, assim como variam as capacidades, o tempo, o equipamento e as fases da temporada. Além do mais, existem vários tipos de prática: é possível trabalhar em mudanças do swing, se aquecer antes de uma volta no campo, etc. E cada jogador é diferente do outro na abordagem à prática, assim como são diferentes os pontos fortes e fracos e a quantidade de tempo investida em praticar.
Todavia, inserindo essas ideias no seu jogo poderá praticar de maneira mais eficaz, desenvolver as capacidades pedidas no campo e, ao mesmo tempo, melhorar aspectos psicológicos importantes do seu jogo. Pratique com a intenção de fazê-lo de um determinado modo, torne a prática mensurável em termos de resultados, replique as condições do campo tornando a sua prática casual e concentre-se no ponto certo.
É importante frisar que anotar os resultados diários, semanais e mensais para depois fazer estatísticas proporcionará a você um precioso feedback objetivo sobre o seu jogo. Consequentemente, será capaz de fazer progressos, definir novas metas, desafiar a si mesmo e desenvolver novas estratégias para continuar a melhorar.
DICAS IMPORTANTES
ω Pause a prática em pequenas partes para se concentrar melhor
ω Seja criativo e invente desafios pessoais com os quais se avaliar
ω Use os desafios para encontrar na prática objetivos claros e mensuráveis – defina as metas e depois tente superá-las
ω Anote os resultados para verificar os progressos, aumente a segurança e a motivação e depois observe os melhoramentos no campo
*Christian Swann é doutor de Pesquisa em Psicologia do Golfe e Professor de Psicologia do Esporte na Universidade de Lincoln. Siga-o no Twitter: @cswannpsych.