Conheça em primeira mão a estrutura do campo que vai sediar a volta do esporte às Olimpíadas em agosto
Imagens aéreas do imponente Campo Olímpico de Golfe, construído na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, já correram o mundo e maravilharam golfistas dos quatro cantos do planeta. Se havia alguma dúvida em relação à qualidade do desenho e do campo, isso foi resolvido no evento-teste . O que há por trás do verde dos fairways e greens também impressiona. Golf & Turismo desbravou, com exclusividade, o que poucos conheceram de perto: os bastidores do local que vai reunir os principais golfistas do mundo em agosto deste ano.
A primeira visão que se tem ao passar da portaria é o Club House, construído a cerca de 70 centímetros do solo, com apenas um pavimento aparente. Membranas tensionadas que lembram guarda-sóis abertos para cima são a marca registrada da estrutura.
O projeto do Club House foi escolhido por meio de um concurso promovido pelo Comitê Rio 2016 e pelo Instituto de Arquitetura do Brasil (IAB). Os vencedores, depois de avaliados 57 projetos de todo o Brasil, foram os arquitetos Pedro Évora e Pedro Rivera, sócios do escritório Rua Arquitetos, do próprio Rio de Janeiro.
“Tínhamos o desejo de abrir as portas para a cultura brasileira e de dar essa oportunidade aos jovens arquitetos do nosso País. Eles apresentaram trabalhos que enobrecem e orgulham a arquitetura brasileira”, disse Carlos Nuzman, presidente do Comitê Rio 2016, quando o resultado do concurso foi divulgado, em 2012.
Os “Pedros”, como são chamados, se formaram na Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e atualmente são professores da PUC-Rio. Uma curiosidade: Pedro Évora é neto de Affonso Évora, que pertenceu à seleção olímpica de basquete que conquistou o bronze nos Jogos de Londres em 1948 – a primeira medalha brasileira em esportes coletivos.
O projeto da sede priorizou conceitos sustentáveis. O Club House, por exemplo, aproveita a iluminação natural. Os extensos decks de madeira da parte externa são de madeira de reflorestamento. As 14 pirâmides quadrangulares invertidas – os guarda-sóis abertos ao contrário – têm 10 x 10 metros e são erguidos em uma estrutura de metal. Lembram não só guarda-sóis, mas árvores (escassas no campo, que preza a vegetação local, de restinga) ou pétalas gigantes de flores.
Além de oferecer sombra, essas coberturas também servem para captar água da chuva, que passa pelos pilares de metal e é armazenada em um reservatório no subsolo com capacidade para 500 metros cúbicos, para depois ser utilizada nos espelhos d’água da sede.
O projeto dos “Pedros” criou uma sede aberta, onde o vento a corta livremente e a paisagem é vista de praticamente todos os pontos. O Club House é composto de diversos módulos. Depois de percorrer a entrada principal, há o pro-shop, recepção e lounge interno. Em seguida, há um espaço reservado para o restaurante e para um bar de apoio. Há também um salão de eventos de 400 m2, com sala de apoio de 80 m2, além de salas de administração e escritórios, que ficam mais discretos, com vista para o driving range.
No subsolo, há mais áreas de apoio para o restaurante, sala de caddies, banheiros e uma garagem para 31 golf carts, que só serão utilizados por pessoas com dificuldades comprovadas de locomoção, já que o campo não possui carth paths (as estradinhas para os carrinhos).
Os vestiários possuem 200 armários, em estruturas modulares que podem ser montadas de acordo com os eventos – se for um campeonato estritamente masculino, por exemplo, é possível reservar todos os lockers para os homens.
A área de manutenção é um espetáculo à parte. Sem dúvidas, é a maior e mais completa do Brasil e não deixa absolutamente nada a desejar em relação às dos melhores campos de golfe do mundo. O módulo principal é o de administração. Além da sala do superintendente e assistentes e da sala do chefe de irrigação (de onde dá para controlar cada um dos mais de 2.000 aspersores do campo individualmente), esse módulo possui até laboratórios para análises químicas da grama, areia e água utilizadas no campo, por exemplo, além de sala para armazenar as peças.
As máquinas ficam em um galpão de 630 m2. Em março, 81 máquinas já trabalhavam no Campo Olímpico, contando desde sopradoras de folhas até roçadeiras e cortadeiras de green. Em breve, chegarão outras 40 máquinas em contêineres para preparar o campo para os Jogos. Todas elas podem ter seus rolos de corte afiados no próprio centro de manutenção do campo.
A área de manutenção ainda possui um edifício de lavagem de máquinas, onde também são deixadas as aparas de corte, e um depósito de areia utilizada para fazer o top dressing no campo.
O Campo Olímpico também é o primeiro do Brasil a estar preparado para transmissões ao vivo pela televisão. O Olympic Broadcast System (OBS), empresa responsável pela transmissão dos Jogos, ajudou o Comitê Rio 2016 na elaboração do projeto, que inclui túneis subterrâneos por onde passará boa parte dos cabos necessários para a transmissão, ligando os pontos mais distantes do campo à sede.
A infraestrutura ainda vai crescer mais. A Confederação Brasileira de Golfe (CBG) irá construir no local uma academia para o ensino do esporte tanto para atletas de alto rendimento quanto para iniciantes e, principalmente, para crianças do projeto Golfe para a Vida. Além da estrutura física da academia, que ainda será erguida, o local conta com um campo de quatro buracos (três par 3 e um par 4) para treino e para iniciantes, com a mesma manutenção e qualidade do campo principal.
“Será um campo que terá condições de abrigar os maiores eventos do mundo e de desenvolver o que será o maior projeto de inclusão social ligado ao golfe do mundo”, diz Paulo Cezar Pacheco, presidente da CBG, que acompanhou a obra de perto desde o início.
Como se vê, o golfe brasileiro nunca mais será o mesmo.