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Dr Wilson Gonzaga – O Golfe e a vida

*por Dr Wilson Gonzaga

Minha vida esportiva pode ser chamada de pífia, lastimável, eu sou aquele que sempre foi chamado de “grosso”. Era ruim de bolinha de gude, peão, pega-pega ou qualquer atividade que exigisse destreza física. A impressão é que eu padecia de dislexia motora. Minha carreira de jogador de futebol terminou ainda na pré-adolescência quando fui injustamente chamado de idiota só porque tinha feito meu segundo gol contra! Aquilo me ofendeu profundamente e abandonei o campo na primeira metade do primeiro tempo! Ali eu percebi que se quisesse um mínimo de autoestima, deveria me dedicar às atividades mais intelectuais do que as que exigiriam uma inteligência corporal sinestésica. Até que um dia, já médico psiquiatra, tive a felicidade de me encontrar com o golfe. Mais do que um esporte vi ali uma grande oportunidade de desenvolvimento mental, ético e moral. Uma analogia para quem busca alta performance neste maravilhoso esporte chamado vida! Explico: A primeira constatação foi à necessidade de estar presente! Parece óbvio, mas não é. A maioria das pessoas vive “desdobradas”, isto é, o corpo está ali e a mente em outro lugar, ou “preocupadas”com alguma coisa que ainda não aconteceu e que provavelmente nem irá acontecer, ou pior ainda, “pós-ocupada”, isto é, ocupada com algo que já aconteceu. Se na vida conseguirmos mantermos nos no presente, no aqui e agora, vamos evitar muitos dissabores, até porque a fonte de todo sofrimento ou toda felicidade vem da qualidade de nossos pensamentos.

No golfe é assim! A bolinha irá onde o nosso pensamento estiver, ou pelo menos naquela direção. Outra coisa fantástica que o golfe nos ensina é a estratégia. Existe uma verdade da física que diz: “A menor distância entredois pontos não é necessariamente uma linha reta, mas o caminho de menor resistência”. Genial! No golfe como na vida precisamos às vezes perceber isso. Apesar da tentação do atalho e querer jogar a bolinha por cima das árvores é melhor uma jogada mais humilde procurando o Fairway mais visível onde a  possibilidade do erro é bem menor. Até porque sabemos que ganha àquele que errar menos, não é mesmo? Está aí outra analogia. Ganhar de quem? Na  vida o caminho da consciência é solitário, cada um deve encontrar-se com a verdade dentro de si.

Uma das leis psíquicas mais importantes é não temos gestão sobre o pensamento e nem sentimentos de ninguém, somente de si mesmo. A beleza deste esporte como na vida é vencer a si mesmo! Nós jogamos com as pessoas e não contra elas, até porque o sistema de contagem de pontos, o handicap, permite um jogador experiente jogar em igualdade de condições com um outro com pouca experiência. Isto é fantástico! Jogar com o outro sem ficar“secando” sua jogada é tudo! Imagine isto também na vida! Cada um ocupado com suas próprias coisas, sem se meter na vida alheia e ainda poder vibrar com o sucesso do outro!

Outra coisa que também acho análogo a vida é o que costumo chamar de georreferenciamento, isto é, saber exatamente onde foi parar aquela bola mal tacada. Atrás da árvore, no meio do mato, em cima de uma duna, sei lá. Na vida às vezes acontece a mesma coisa. Cometemos erros e vamos parar em lugares esquisitos onde não planejamos estar. É preciso então ter plena consciência de onde estamos para podermos criar uma estratégia para retornar ao rumo certo. Reconhecer o erro sem ficar se justificando, até porque quem justifica justo fica! E se justo fica não há porque mudar. Na vida como no golfe tem sempre espaço para melhorias.

Outra analogia importante é sobre a nossa taqueira que classicamente tem quatorze tacos, um para cada finalidade e tipo de jogada. Joga das longas, curtas, lances em que nos interessa parábolas altas em que a bolinha caia e não corra, outras que caia e corra e outras que deslize elegantemente no greematé o buraco. Pois bem na vida, a nossa taqueira também deve estar completa. Devemos ter varias competências para usar nossos talentos na medida em que a vida assim exigir. Como diz a sabedoria popular “quem tem apenas um martelo enxerga todos os problemas com cara de pregos”.

Outro exemplo importante que podemos exportar do golfe para o cotidiano é a técnica de Jack Niklaus que visualizava a jogada antes de realizá-la e se por acaso não saísse como planejada, sem pressa, a refazia de maneira correta em sua mente para que assim ficasse registrada.

Coincidentemente Pitágoras, o filósofo matemático, exigia de seus alunos a mesma coisa: Antes de dormirem seus alunos deveriam rever tudo o que tinham feito de errado no dia e reeditar em suas mentes um comportamento mais correto e virtuoso para o dia seguinte.

Não posso aqui deixar de mencionar a elegância que envolve este jogo. E é claro que não estou falando das nossas roupas de grife e nem da elegância dos nossos carros nos estacionamentos de nossos clubes. Estou falando da gentileza e respeito que temos com os jogadores mais rápidos deixando serenamente que passem à nossa frente e principalmente da ética, que mesmo quando ninguém nos observa, anotamos a tacada errada que acabamos de dar. Imaginem o quanto o nosso mundão está precisando de ética e gentileza!

Agora minha última analogia:

“O GOLFE É COMO SEXO, MESMO QUANDO A GENTE JOGA MAL, AINDA ASSIM É UMA DELÍCIA”.

* Dr. Wilson Gonzaga é médico psiquiatra, psicoterapeuta, conferencista e diretor do Instituto

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