Golfe & Turismo

MARTIN KAYMER: golfista alemão fala sobre o esporte, intimidade e carreira

por_ Isabella Calogero tradução_ Vania Andrade

Sabe-se que o único território sobre o qual se pode exercitar o controle não é o externo, mas o que se encontra dentro de nós mesmos, e só podemos fazer isso se nos conhecemos profundamente. Depois de algumas temporadas decepcionantes (e o término de um relacionamento), Martin Kaymer decidiu embarcar nessa jornada nas profundezas da própria alma, convicto de que aquilo que descobrirá de si mesmo poderá levá-lo de volta à vitória. Ele mesmo nos contou isso entre um swing e outro no Pevero Golf, onde passou um longo fim de semana.M

“Cada um de nós tem algo bem no fundo da alma em que é melhor do que qualquer outro. E cada um de nós tem o dever de descobrir esse talento inato. Todos temos um dom: cabe a nós descobri-lo e fazer com que cresça”, diz.

Você foi apaixonado por golfe desde criança?
Não, era difícil demais. Comecei por volta dos 14 anos e, quando se tem essa idade, só se pensa em se divertir com algo fácil. Jogava futebol e me dedicava pouco ao golfe. O acaso fez com que eu tivesse talento para o golfe e me tornasse cada vez mais habilidoso. Comecei a vencer alguns torneios e percebi que era talentoso. Depois, enquanto crescia, comecei a descobrir aspectos do golfe que gostava e, no final, me apaixonei pelo esporte. Nem almejava me tornar profissional, porque na época não tinha a mínima ideia disso, mas queria apenas ser um golfista cada vez melhor.

Pensei que um campeão pudesse se apaixonar pelo golfe só à primeira vista… 
Vamos pensar nos relacionamentos: às vezes você encontra uma mulher e sente uma paixão fulminante. Outras vezes, aquela mesma mulher não te agrada logo de início, mas com o tempo se torna a sua melhor amiga. É exatamente isso, a mesma coisa acontece com o golfe.

E hoje está apaixonado? 
Estive por muito tempo, mas esse relacionamento não era possível por muitos motivos. Agora não estou, e com o trabalho que faço também é difícil que aconteça. Infelizmente é assim, e eu gosto, porque estar apaixonado é tão bonito.

Prefere se apaixonar ou vencer o Masters?
Escolho o amor. O Masters é só um título.

Tem certeza?M
Sim! Se não tivesse vencido majors, provavelmente escolheria o Augusta, mas, como já conheço a sensação, prefiro o amor. Depois, não é que poderia ter filhos só porque tenho o paletó verde

Por que não?
No fundo, Sergio García parece que nunca tirou aquele paletó… (risos) Mas só porque já tinha encontrado o seu amor!

É verdade. Então, vejamos: quais são suas qualidades que poderiam fazer uma mulher se apaixonar por você?
Bom, sou um tipo confiável, que leva as coisas até o fim, mesmo que sejam difíceis. Na vida que cada um de nós conduz, deve haver sempre quatro qualidades: disciplina, respeito, amor e honestidade. Essas quatro qualidades cobrem um leque bem amplo e eu busco tê-las sempre em mente.

E o que não aprecia em si mesmo?
Quando se trata de atingir objetivos, sou teimoso demais. Por esse motivo tenho dificuldade de mudar a rota que começo e, pior ainda, perco muito tempo nisso quando as coisas não caminham como deveriam. Ao mesmo tempo, começo a perder confiança, como aconteceu na temporada passada: havia algo que não estava dando certo e esperei demais para mudar.

O que precisa mudar para se tornar o número 1?
Ser o número 1 não é uma prioridade minha. Preferiria vencer o Campeonato Aberto ou o Masters. Mas para conseguir tenho que ter mais foco nas coisas que são certas para mim. Em vez disso, até hoje, com muita frequência me concentrei nas necessidades de quem estava ao meu redor, que consequentemente é uma das coisas que não gosto de mim mesmo, mesmo se reconheço que seja uma ótima qualidade. No entanto, ser assim algumas vezes enfraquece a sua posição, fazendo com que duvide de si mesmo. E, sim, aconteceu comigo. Por isso, não é o meu golfe o problema, mas é mais conseguir mudar as circunstâncias em torno de mim.

Como se faz isso?
É preciso se preparar para aproveitar a ocasião. Primeiro é necessário trabalhar arduamente e, principalmente, fazê-lo da maneira correta. Portanto, para vencer, primeiro é preciso criar as condições com o trabalho.

Então o que define o verdadeiro campeão é só a capacidade de criar as ocasiões e depois aproveitá-las? Ou é algo maior?
No final, tudo se reduz a uma única pergunta: quanto realmente você quer vencer? Essa é a chave. Falo por experiência própria, [pois] houve torneios em que estava na frente e, no entanto, não tinha a motivação certa para levar para casa o título. Se a pergunta vier é porque tive aquela sensação e a resposta vale milhões de dólares. O que posso dizer é que se trata de um sentimento que existe em todos nós, só que talvez outros não o contem, mas, acredite em mim, é assim que acontece: [você] está na frente no torneio, talvez no buraco 14, e repentinamente se dá conta que não lhe interessa tanto assim conquistar o título. É difícil de explicar e nem eu mesmo consegui encontrar uma motivação. Só sei que, horas depois, a vontade de vencer reaparece, sozinha, assim do nada, e você não sabe nem mesmo onde é que ela tinha ido parar.

Não seria uma fraqueza?
Claro que sim. Sobretudo, em um mundo de atletas onde ninguém lhe dirá como se sente e, principalmente, em um mundo de mídias sociais que julga tanto você em tudo aquilo que se divulga. Mas, além disso, sei muito bem que, antes de encontrar a vontade de vencer, tenho de descobrir de onde vem a vontade de perder.

Primeiro tem que se apaixonar de novo… 
Devo?

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