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Um livro para ler e reler

Sempre invejei os gaúchos, que possuem um sinônimo para campo de golfe, que é “cancha”, o que ajuda a deixar o texto menos cansativo ao evitar a repetição de palavras.

Agora invejo ainda mais Thomaz Albornoz Neves, o TG, como é conhecido, depois de ler o recém lançado livroGolfe, de sua autoria. Ele usou cada palavra com o mesmo cuidado de quem lê corretamente a queda de um green em final de campeonato e depois pateia com precisão cirúrgica. Com a diferença que certamente ninguém jamais acertou no green tanto quanto TG acertou nas páginas dessa obra.

Golfe é um livro para ler e reler, pois TG escreve por todos nós, para todos nós, golfistas apaixonados (se é que é possível ser golfista sem ser apaixonado).

É umaobra para ser degustada com a mesma calma dispensada àquela partida em que o swing flui naturalmente, quando o resultado aparece sem esforço (e como confesso que isso não tem acontecido com nenhuma frequência no meu caso, só me resta mesmo a literatura fluída de TG).

E, quem diria, tudo começou com uma porta de carro amassada contra um tronco de árvore. Pelo incidente, TG e o irmão receberam do pai um castigo um tanto quanto instigante: ir com ele ao Clube Campestre de Livramento todos os finais de semana para aprender golfe. Chato, não?

TG virou golfista, e agora soube reunir com maestria suas duas paixões: a literatura e o golfe.

No Diário – a primeira parte do livro – TG nos leva a um passeio com ele, seu swing, seus pensamentos e suas palavras. E que palavras.

“E há momentos em que a essência do golfe é estranha à competição. Como se a disputa chocasse com a harmonia do swing e com a beleza da cancha. Parece que o golfe está além do jogo, que o golfista está além do jogador” é um dos exemplos de passagens que marcam. É quando o golfista está além do escritor.

Na parte 2, Rincão da Carolina, encontramos a história do campo, ops, quero dizer, a cancha de Livramento. Em um trabalho impressionante de pesquisa, TG nos brinda com duas encarnações do campo – revisita o traçado original e nos apresenta o atual desenho.

No final, há textos que já fizeram sucesso em seu blog, na internet e aqui na revista Golf & Turismo. Um exemplo é o memorável O Galo Cinza, ensaio sobre o campeão Herik Machado, cria de TG e seus companheiros de clube. Carta aberta a um jovem campeão, endereçada a Sandro Gonçalves, outro peixe do cardume do Rincão da Carolina, é outro texto imperdível. Todos devem ser lidos e relidos.

Faço minhas as palavras do colega Marco Frenette, outro escritor de grande quilate e bom swing, que assina a introdução da obra: “Agora, finalmente, temos um brasileiro a nos representar nos greens estilísticos do Augusta da Letras. E dentro das brasilidades, esta é a primeira obra realmente literária da história do golfe nacional.”

Enfim, é um livro cuidadosamente escrito por quem swinga maravilhosamente bem as palavras e as emboca com maestria – e não é só porque usa livremente a palavra “cancha”.

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