por_ Pierlugir Fracasso | foto_ Furnace Creek Resort e Daniel Franco
Cruzar o Vale da Morte não é uma ideia tentadora. Com certeza existem as maravilhas da natureza, formações rochosas, dunas de areia, lagos de sal e cenários de tirar o fôlego, com nomes evocativos como Zabriskie Point ou Dante’s View. Por outro lado, altas temperaturas, pouca água e pouca gasolina a um preço caríssimo. Além disso, o vale é definitivamente vasto e a estrada que devemos percorrer o atravessa por 200 quilômetros. Ainda por cima, agosto com certeza não é o mês mais fresco para visitá-lo. Por isso, partimos com o tanque cheio de gasolina e muitos galões de água porque nunca se sabe.
No meio do vale, encontramos o lugar onde previmos uma parada. No meio do nada. O celular não pega. Em compensação, o céu estrelado do deserto é fantástico, porém, não consegue anular a apreensão de estar no Vale da Morte. À noite, a temperatura “cai” a 37ºC, e o ar-condicionado no quarto do hotel trabalha sem trégua.
Na manhã seguinte saímos de novo bem cedo. Após duas horas de estrada chegamos a outro centro habitado, Furnace Creek, o riacho da fornalha. Na verdade, falar de centro habitado é um exagero: uns dois hotéis, um restaurante, um posto de gasolina e um campo de golfe. Isso mesmo: o que fizeram com a pouca água do riacho da fornalha? Um campo de golfe! Aproximamos-nos e avistamos o cartaz: “O campo de golfe mais baixo do mundo”. O Death Valley é uma das maiores depressões da Terra, abaixo do nível do mar. Diante disso, não pudemos resistir. A ideia de fazer um giro em um campo que detém um recorde mundial nos emociona.
Pagamos o green fee de poucos dólares (campo público, 18 buracos, par 70 de quase 6.069 jardas), alugamos os tacos e compramos umas bolas. O presidente-secretário-caddie-greenkeeper avisa que às 11 horas vai embora e, uma vez terminado o giro, temos que deixar o cart com as taqueiras na frente da club house. Alguém depois cuidará disso. É óbvio que nas horas mais quentes ele não quer estar nem mesmo atrás da escrivaninha. As taqueiras alugadas respeitam perfeitamente a paridade de condições: todas as marcas estão representadas, uma para cada taco.
Death Valley, na Califórnia (EUA), é um dos lugares mais quentes e isolados da Terra. Lá, em agosto, a temperatura à noite “cai” para 37oC
Verde no meio do deserto
Acima, The Inn at Furnace Creek, um dos dois hotéis existentes na área do golfe (o outro é o The Ranch); à direita, o deserto, dono absoluto do Death Valley, e um dos buracos repletos de vegetação do Furnace Creek Golf Course
Transportamos as taqueiras e os galões de água no cart e, no campo deserto vamos para o tee do buraco 1.
Obviamente, dada a afluência limitada, não tem starter nem tee time. O campo se apresenta fácil, com fairways largos, greens amplos e roughs generosos. Aprecio muito mesmo a total falta de obstáculos de água, verdadeiros imãs para minhas bolas.
Realmente faz calor, mas um calor muito seco, que não incomoda muito. Em compensação, o vento do deserto faz transpirar rapidamente e a desidratação chega quase sem que a gente perceba. Por isso, a cada tee bebíamos abundantemente. Os galões eram esvaziados um após outro.
O jogo fluiu bem. No campo não tinha ninguém e, além do mais o trajeto, assim como em outros campos públicos nos Estados Unidos, não prevê punições.
Terminado o jogo, deixamos o cart com as taqueiras na frente da club house deserta. Fizemos fotos com os cartazes do campo indicando o registro no Guinness dos recordes, com o termômetro que marcava 42ºC. Subimos de carro e fomos comer, contentes com o “refil” gratuito para as bebidas, tradição americana viva também no meio do deserto.
Felizes por ter jogado no campo mais baixo do mundo (não em termos de score, infelizmente, mas só de altura), retomamos a visita ao Death Valley com outros olhos e sem medo algum do ambiente hostil.
Após alguns quilômetros ainda na descida, vemos uma seta que indica o Devil’s Golf Course. Fui pego pelo desânimo, acho que o recorde não era esse, e que tinha errado de campo. Porém, é só o nome de um grande lago de água salgada, com inúmeras concreções de sal que lembram um campo de prática imenso cheio de bolas. O recorde está salvo!
Como chegar
O Death Valley encontra-se na parte leste da Califórnia, nas fronteiras com Nevada. No seu interior existem dois centros onde se pode pernoitar, Stowepipe Wells e Furnace Creek, onde está situado o campo de golfe. Em Furnace Creek há um resort de luxo, aberto de outubro a maio, e um hotel. O melhor modo para chegar e visitar o Death Valley é de carro. De Las Vegas são cerca de duas horas de carro e também é possível um passeio durante o dia. Já de Los Angeles são cinco horas, e de San Francisco, pelo menos sete horas. Para visitar o Death Valley recomenda-se evitar o verão. De maio a setembro as temperaturas são muito altas, com médias durante o dia de 45ºC e picos de 50ºC. No Death Valley foram registrados 54,6ºC, temperatura mais alta já encontrada na Terra. De qualquer modo, o calor é muito seco e incomoda pouco, mas exatamente por isso é mais perigoso. O risco de desidratação é real e é preciso ter suprimentos abundantes de água. Conta com longos trajetos desertos com pouquíssimos veículos. A cobertura do telefone é muito escassa, quase sempre ausente. Contudo, as estradas são patrulhadas e os acidentes fatais são muito raros. O campo de golfe é público, o green fee custa 58 dólares com o cart, e as taqueiras podem ser alugadas. Além de ser o campo mais baixo do mundo, a 71 metros abaixo do nível do mar, também está na classificação dos 50 campos mais difíceis dos Estados Unidos.