“Música é vida interior, e quem tem vida interior jamais padecerá de solidão”, frase do jornalista Artur da Távola serviria muito bem também para o golfe: golfe é vida e quem joga jamais padecerá de solidão. E quem vive a música e o golfe então será que descobrirá a felicidade do ser feliz.
Uma pergunta para quem conhece esses dois mundos. Além de se apaixonar pelo golfe, o maestro Carlos Moreno teve as suas primeiras tacadas na terra mágica do Descobrimento do Brasil, a costa baiana, mais exatamente no belíssimo campo do Terravista Golf Course, em Trancoso, projeto do americano Dan Blankenship, inaugurado em 2004. O cartão postal do campo é o buraco 14, par 3, o mais bonito do Brasil, onde jogador deve acertar a tacada de uma falésia para outra, passando por cima de um penhasco, desviando o olhar do mar e focando no green.
Mas além da beleza do campo, ao lado do buraco 5, foi construído o Teatro L’Óccitane, projetado pelo arquiteto luxemburguês François Valentiny, um especialista em casas de concerto na Europa. Com duas plateias sobrepostas, com mais de 1.000 lugares cada uma, para apresentações ao ar livre ou shows em local coberto, o teatro foi inaugurado em 2012, na terceira edição do festival Música em Trancoso.
E foi neste palco de música e golfe, que o maestro Carlos Moreno, regente titular da Orquestra Acadêmica Mozarteum Brasileiro e regente principal convidado da Orquestra Sinfônica de Goiânia, viu por vários anos alguns loucos jogando golfe no calor do verão baiano, e somente este ano resolveu experimentar e não parou mais.
Carlos Moreno foi levado ao esporte não só por estar nesse campo maravilhoso que é o Terravista, mas pelas mãos dos amigos golfistas e grandes entusiastas da música Vera Fernandes e Paulo Armani. E, levado para Trancoso por Carlo Lovatelli e SabineLovatelli, fundadora e presidente do Mozarteum Brasileiro.
“O Música em Trancoso, é um sonho idealizado por Sabine”, afirma o maestro Carlos Moreno e foi por ter o apoio em suas iniciativas musicais do Mozarteum que acabou tendo a oportunidade de conhecer o Terravista.
Em 2016, Carlos Moreno propôs a criaçãoda Orquestra Acadêmica Mozarteum Brasileiro, que estreou em março de 2017, no 6º Festival Música em Trancoso, e em julho de 2017, por intermédio do Mozarteum, o maestro iniciou em Trancoso, com o Núcleo Neojibá e o Instituto Trancoso, o 1º Workshop de Inverno – Práticas Musicais e Pedagógicas, direcionado ao desenvolvimento dos talentos musicais desta cidade.
Nascido em Petrópolis (RJ), em fevereiro de 1968, Carlos Moreno é um dos mais requisitados maestros brasileiros de sua geração, atuando no Brasil, Europa, Estados Unidos e Ásia. No Brasil, atuou à frente das principais orquestras profissionais, entre outras a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (OSESP), Orquestra Sinfônica Brasileira (OSB), Orquestra Sinfônica Municipal de São Paulo (OSMSP), Filarmônica de Minas Gerais, Filarmônica de Goiás, Orquestra Sinfônica da Bahia (OSBA), Sinfônica do Paraná, Sinfônica da Universidade de Caxias do Sul (UCS) e Orquestra Experimental de Repertório (OER), uma das mais importantes orquestras de formação da América Latina.
Mas voltando ao golfe, Carlos Moreno já tirou seu primeiro handicap, 33, o qual pretende abaixar no próximo ano, contando com isso com o apoio da sua esposa, a violinista Constança Almeida Prado, que já começou também a dar suas tacadas. “Minha esposa está fazendo aula e sempre que possível me acompanha no campo, mais um motivo para estar sempre jogando”, diz animado o Maestro.
Para quem desejar assistir o 8º festival Música em Trancoso será realizado de 23 a 30 de março de 2019. Sua programação congrega música clássica, popular, jazz, world music, com artistas internacionais e brasileiros. Além dos espetáculos no Teatro L’Occitane, sede do festival, há atividades gratuitas, como concertos ao livre, masterclasses e aulas de iniciação musical nas escolas públicas da região.
Para os golfistas mais dois eventos, o 2º L’OccitaneauBrésil Amador de Golfe e o 8º L’Occitaneen Provence Golf Open. O maestro Carlos Moreno já sabe onde regerá com a sua batuta e levará sua taqueira em março do próximo ano. E, o convite está feito para todos os golfistas do Brasil.
Como descobriu que a música era sua profissão?
CM – A música acredito ser uma herança de minha mãe que era pianista e cantora. Entretanto assistir um concerto ao vivo na Quinta da Boa Vista – Projeto Aquarius, no Rio de Janeiro, aos 5 anos de idade, foi o que me encantou definitivamente. Dai a escolha do violino como primeiro instrumento e a regência orquestral que se manifestou mais tarde. Na verdade, a música me escolheu e dela nunca mais saí.
Antes de começar a jogar o que achava do golfe?
CM – O golfe era algo que um professor de regência em 2002 havia me aconselhado a praticar. Entretanto estava longe do meu dia a dia, do meu conhecimento. Primeiramente não entendia ser exatamente um desporto mas sim algo apenas recreativo. Em toda a minha infância e juventude me dediquei ao judô e outras artes marciais, a exemplo do Kung Fu e a Capoeira. Paralelamente sempre mantinha uma frequência em academias de ginástica e musculação. Com o passar do tempo, aos 46 anos já não me encantava mais com nenhuma destas atividades e acabei por entrar numa fase de sedentarismo.
Quantos anos se passarem do festival Música em Trancoso até a primeira tacada?
CM – Lá estava eu, desde 2015, dentro de um dos mais belos campos de golfe da atualidade, realizando concertos, dando aulas e com o canto dos olhos vendo esporadicamente alguns jogadores. Mal sabia eu o quanto seria apaixonante praticar este esporte!
Em que momento o golfe apareceu em sua vida?
CM – O golfe me foi apresentado em finais de janeiro deste ano quando trabalhava no projeto de formação de jovens talentos musicais da Vila de Trancoso, na Bahia. Numa manhã de tempo livre fui levado ao Terravista Golf Course. Lá fui apresentado de verdade ao esporte por Vera Fernandes, uma entusiasta do golfe e uma grande apoiadora dos jovens talentos musicais. Logo depois recebia as primeiras orientações pelas mãos do professor Anísio Santos, head pro do clube. Neste dia como se diz no jargão do esporte, fui mordido pela vontade de bater a bola.
É uma relação especial com Trancoso?
CM – Tenho definitivamente uma ligação cada vez maior e extremamente responsável com Trancoso, um verdadeiro paraíso do litoral baiano. Desde 2017 criei diversas ações objetivando buscar, resgatar e incentivar talentos musicais da Vila, com o total apoio do Mozarteum Brasileiro da querida Sabine e Carlo Lovatelli, presidente do Terravista, ambos golfistas. Em janeiro deste ano dentre as atividades criadas para os jovens músicos obviamente criei para eles uma Oficina de Golfe junto ao professor Anísio. Foi gratificante e todos adoraram a primeira experiência de dar umas tacadas. A música e o golfe se baseiam na comunicação direta com a natureza. Foi realmente engrandecedor e continua a ser.
Depois onde começou a treinar e a jogar?
CM –Faço aulas e jogo no Clube de Golfe Vila da Mata, em São Roque, há uma hora de São Paulo, que é uma joia, espaço raríssimo para a prática do golfe. Mesmo sendo um campo de 9 buracos é de extremo desafio. Ter o privilégio de poder estar com alguma frequência nestes campos me torna um privilegiado. Ao Vila da Mata agora só nos falta criar uma temporada de concertos. Dai este maestro golfista, junto a todo um público especial, estará no céu. Meu mentor do golfe e de minha esposa, Constança, é o professor Antônio Araújo – “Peba”. Paciente, incentivador e dedicado ao extremo. Eu particularmente só acredito na aprendizagem quando existe a figura do mestre: “como se diz quando o aluno está pronto o mestre aparece”. Gratidão!
O golfe altera a rotina de vida?
CM – Sim, com certeza. Neste ano o golfe foi incorporado também às minhas viagens e turnês de trabalho. Após ser convidado a reger uma orquestra logo me vejo a consultar sobre campos de golfe próximos. Ou seja… golfe, música, palcos e campos de golfe fazem parte do planejamento diário. Em novembro, eu e minha esposa fomos à Espanha para uma reciclagem musical e cultural assistindo concertos e outras manifestações da cultura Flamenca. E, pela primeira vez incluímos o golfe na bagagem da viagem. E foi muito bom.
Violino, batuta e taco, algo em comum?
CM – Violino, batuta, taco na verdade são extensões de ações da minha existência. Obviamente o taco é algo que ainda precisa trilhar um bom caminho até atingir a maestria da batuta.
A Música de Concerto e o Golfe tem algo em comum no Brasil?
CM – Vivemos num país de minorias e por vezes de ignorâncias extremas, vide o tempo que eu mesmo levei até o primeiro contato com o golfe. As coisas são assim, pois não existe a oferta. O ser humano é capaz de identificar o que lhe é bom, entretanto o acesso, as pontes precisam ser construídas.
Sobre este aspecto a música de concerto dá de 10 x O na prática do golfe no Brasil, pois os que gerem a música, por verem salas de concertos se esvaziarem, tomaram diversas iniciativas fazendo com que hoje praticamente todos os espetáculos são frequentados por um público cada vez mais jovem e fiel, a exemplo dos grandes campeonatos de golfe norte-americanos.
Para um jovem iniciante qual palavra chave na música e no golfe?
CM – Por fim, para um jovem ou um pré-sênior, como eu, ingressar no mundo da música e ou do golfe a palavra chave é: gostou, faça! Foco na bola. O resultado, o sucesso está garantido.E, feliz é quem faz o que gosta.
Tenho sempre em minha mente uma frase do livro A Arte Cavalheiresca do Arqueiro Zen, do filósofo alemão EugenHerrigel: “a perfeição da arte… só é alcançada quando o coração não for mais afetado por nenhum pensamento a respeito do “eu” e do “outro”… nem sequer pela vida e a morte” (Takuan).
O livro realmente traz um olhar muito profundo sobre a importância do Mestre. Sobre a abstração quanto ao resultado e sim o foco na ação primária. Em nosso caso, o contato com a bola. O resultado como mera consequência.
Enfim, vale para a música e golfe… para a vida…