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Osório de Almeida – Um brasileiro técnico de golfe nos EUA

por redação
*Por Camilo Osório de Almeida

Ser técnico de golfe universitário nos Estados Unidos é uma experiência fantástica. Apesar dessa experiência variar de faculdade para faculdade e de divisão para divisão, posso te dizer que o tratamento que me deram na faculdade de Waynesburg em 2008 e agora na faculdade de Talladega no Alabama são bastante parecidas, apesar de Talladega ser uma escola da primeira divisão.

Ambas me deram a capacidade de construir uma equipe de jogadores de primeira categoria, apesar do fato de que a faculdade de Waynesburg era de terceira divisão. É verdade que o departamento atlético de faculdades da terceira divisão por aqui não dispõe de verbas para recrutamento de atletas somente por serem estrelas do golfe.

Nessa liga da NCAA, principal competição anual de golfe universitário masculino dos EUA, têm-se bolsas de ensino para serem dadas todo ano para estudantes que têm ótimas notas no científico. O técnico normalmente usa essas bolsas acadêmicas para recrutar um grande time, sem dúvida. Algumas dessas bolsas cobrem 100% das matrículas para os estudantes, outras são de 75% e algumas de 50% ou até de 25% dependendo do nível acadêmico do aplicante. Tem bolsa para tudo que é lugar em faculdades da NCAA da terceira divisão.

Aqui na Talladega, é diferente, mas bastante parecido em essência. Eu tenho um orçamento bem maior para recrutar estudantes nacionais e internacionais. Se eu quiser, viajo para o mundo inteiro para trazer um time de primeira linha para cá. Tenho capacidade de recrutar três atletas brasileiros pagando literalmente tudo para eles e elas, o que obviamente é um benefício incrível. A dificuldade para mim como técnico é que todas as faculdades da conferência também podem fazer o mesmo. Como em faculdades de terceira divisão da NCAA, faculdades da primeira divisão da NAIA, liga de faculdades pequenas americanas, também oferecem bolsas acadêmicas para estudantes. Eu uso essas bolsas para recrutar os outro sete atletas do meu time. Tem bolsa para tudo que é lugar em faculdades da NAIA da primeira divisão.

Técnicos de golfe são representantes da faculdade para constituintes internos e externos. Meu trabalho como “coach” é de promover a faculdade pelo mundo inteiro e também recrutar um time para ser campeão da liga. O trabalho é bastante difícil, mas sem dúvida é um trabalho absolutamente incrível.

Admito que subestimei como ser técnico de golfe é difícil quando comecei. A dificuldade para recrutar os melhores atletas nunca é tão fácil, principalmente em torneios abertos estaduais de juvenis porque muitos técnicos estão presentes nesses eventos oferecendo pacotes incríveis de admissão para os jogadores mais talentosos. Tem-se um custo alto para recrutar talentos, além do tempo e do suor que se é requerido para montar uma grande equipe, apesar das bolsas que temos disponíveis.

As crises são muitas! Algumas crises são técnicas como a de um jogador do time perder confiança no meio de um torneio da conferência quando o time precisa dele ou dela mais do que nunca para ganhar o evento. Outras crises são puramente acadêmicas. Para poder ser elegível e jogar competições na liga, atletas universitários por aqui precisam manter notas boas também. Nem todo jogador do time gosta de estudar! O técnico nessa hora serve de referência para a área acadêmica assim como ser um conselheiro para o atleta estudante. Muitos problemas são emocionais porque golfistas entre dezoito e vinte e dois anos ainda estão descobrindo os deveres e as dificuldades da vida.

O trabalho é duro!

Nós técnicos somos administradores, pais, amigos, professores, referências, agentes de imigração e recrutador. Cansei de jogar ping-pong e sinuca com os membros do meu time para diminuir a pressão de campeonato e aliviar estresse antes de competições. E as viagens? Nunca é tão fácil manter atletas jovens sob controle de noite, pelo menos essa foi minha experiência.

Ser técnico de golfe nos Estados Unidos me lembra muito ser um pai de família. Muitos sorrisos nas vitórias e muitos choros nas derrotas. A pressão para ganhar é real. A faculdade toda olha para você, o técnico. Os estudantes formados cobram de você os resultados. Todos querem vitórias! E o salário? Não é baixo como o salário do professor Raimundo, mais não é tão alto como se parece. Uma media de 70 mil dólares por ano para técnicos de golfe em faculdades de primeira divisão.

Como o golfe é uma disputa nacional é esperado que os integrantes dos times universitários treinem bastante e joguem em seu campo local vários dias da semana. A diferença é que o técnico e sua equipe de assistentes providenciam oportunidades extraordinárias para o time, como ajuda em aulas que os estudantes não estão muito bem e até ajuda psicológica no campus se necessário.

No meu caso, como sou professor universitário, ofereço ao atleta a oportunidade de estudar comigo no nosso departamento, porque fica mais fácil resolver problemas acadêmicos. Nem todos os professores da faculdade, independente de divisão ou da liga, entendem as dificuldades de jogadores que jogam em times de golfe. Uma das funções do técnico também é de ser um intermediário entre os departamentos e o atleta.

Como disse, ser técnico de golfe universitário nos Estados Unidos é uma experiência fantástica. Como torneios estaduais no Brasil, a competição é acirrada, que faz a vida do técnico ser bastante estressante. Mas no final, vale muito a pena exercer essa profissão aqui na América.

*Camilo Osório de Almeida foi anunciado como o novo técnico de golfe, masculino e feminino, do departamento atlético da Talladega College do Alabama, cargo que assume no segundo semestre, além de suas funções como professor universitário e diretor. Almeida é o primeiro brasileiro que assume o cargo de técnico universitário nos Estados Unidos e nos seus planos está a presença de jovens golfistas brasileiros estudando na Talladega College (fonte: CBGolfe)

 

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