Home Entrevista Claude Harmon III: coach de campeões fala da tradição familiar e paixão pelo esporte

Claude Harmon III: coach de campeões fala da tradição familiar e paixão pelo esporte

por Redação

Durante a última e decisiva etapa do Troféu Rolex de 2019, o treinador Claude Harmon III passou pelo Brasil. Embaixador da marca de relógios, ele conversou com exclusividade com a Golf & Turismo e falou sobre a tradição da sua família de treinadores de golfe, sua relação com estrelas mundiais da modalidade e deu dicas de como o esporte pode crescer por aqui. Harmon tem história curiosa no golfe, uma vez que nunca foi atleta da modalidade e desde muito cedo decidiu que gostaria de ser treinador. Seguindo os passos do pai e do avô, aprendeu os caminhos para ensinar o esporte e virou referência no mundo inteiro.

Quantos da geração familiar de Harmon existem no golfe?
Começou com meu avô, que foi um profissional e também um instrutor de golfe. Ele jogou e ganhou o Masters em 1948. E aí veio meu pai, que tinha três irmãos e todos foram treinadores de golfe. Sou então a terceira geração de golfistas da família Harmon, o que é muita coisa. É incrível fazer parte de uma família que tem tanta tradição no golfe. Eu vejo que faço parte de um legado na modalidade e, conforme minha carreira evolui, vou contando a minha história nessa família.

O que de mais importante você aprendeu com seu avô e pai?
Meu avô sempre dizia que o que realmente importa é aquilo que você aprende quando acha que já sabe tudo. No esporte, creio que exista uma tentativa constante de aumentar seu conhecimento e seus aprendizados, então você nunca deixa de aprender. Com meu pai, por exemplo, aprendi muito a ter ética e a trabalhar duro para alcançar meus objetivos.

Por que decidiu seguir os passos deles?
Eu não joguei muito golfe amador nem quando era criança. Aos 15 ou 16 anos comecei a frequentar as aulas do meu pai e vê-lo ensinando golfe. E aí eu via meus tios fazendo a mesma coisa. E o que me deixou fascinado em ser um instrutor de golfe foi tentar descobrir uma maneira de pegar uma coisa que parece difícil e simplificar. E eu me apaixonei por ensinar e ver golfe. E foi isso que fiz em toda minha carreira. Quando eu era jovem, meu pai trabalhou com grandes golfistas, e em 1993 ele trabalhou com Tiger Woods, e ver essa evolução do esporte foi incrível. Desde muito novo eu estive próximo dos melhores profissionais, vendo meu pai e tios trabalhando com os atletas, e foi isso que quis fazer.

Como funcionam os Centros de Aprendizagem Harmon?
O que temos de singular na nossa família e é uma das razões do nosso sucesso é que não temos um método. Nosso objetivo é sempre ensinar as pessoas a jogar golfe e não simplesmente ensinar golfe. Muitas vezes, as pessoas vão para as aulas de golfe e o técnico diz “isso é o que você deve fazer”, e nosso objetivo é ensinar as pessoas a jogar golfe. Existem muitas maneiras de fazer o swing, muitas técnicas diferentes que você pode usar. Nossa filosofia sempre foi ver cada pessoa de forma individual e entender o que cada um pode ou não fazer, para então entender o melhor caminho para que essa pessoa evolua. Muitos técnicos criam suas teorias e ensinam todo mundo da mesma maneira, enquanto nós nunca fazemos assim.

Como se “constrói” um campeão de golfe?
Para desenvolver um golfista, você realmente precisa entender o que ele pode ou não fazer. É muito fácil mandar um jogador fazer algo, mas se ele não está apto fisicamente a fazer essa tarefa, se não tiver essa técnica, não vai dar certo. Então você precisa entender suas limitações e seus pontos fortes para desenvolvê-lo.

Foto: Zeca Resendes

Como criar um campeão num país com pouca
tradição como o Brasil?
Uma das coisas que mudou bastante nos Estados Unidos e que talvez ainda não tenha acontecido no Brasil é observar que o golfe é um esporte de alto rendimento e que precisa de preparo físico. Golfistas são atletas. Muitas vezes nos países em desenvolvimento as crianças estão jogando outros esportes, como futebol, vôlei ou tênis. Nos últimos 15 anos, nos Estados Unidos, o que fizemos foi olhar para os golfistas juniores e para crianças que nunca jogaram antes e mostramos para eles que os movimentos têm um padrão muito similar ao que eles fariam se fossem arremessar uma bola ou rebater uma bola de tênis. Isso mudou muito, porque agora vemos crianças que querem ser atletas e jogam várias modalidades chegar aos 15 anos e, na hora de tomar uma decisão, escolher o golfe como seu esporte.

O que poderia ajudar países como Brasil seria fazer as crianças entender que golfe é, sim, um esporte que exige preparo. Tiger Woods fez um trabalho incrível nesse sentido também, em mostrar para as crianças que o golfe exige dedicação. Ele vai na academia seis vezes por semana, tem preparo físico de um atleta como os de outros esportes. O golfe também traz consigo vários valores e tradições que são importantes para a vida, como respeitar as regras e ser honesto nas suas marcações. É um esporte que ensina muito para as crianças, para a vida. É claro que outra coisa que ajudaria muito o esporte a crescer no Brasil seria ter um golfista profissional no PGA Tour em quem as crianças pudessem se inspirar.

Seu pai treinou Tiger Woods, Phil Mickelson e Greg Norman, entre outros campeões. Você treina Brooks Koepka, Rickie Fowler e Jimmy Walker. O que mudou no ensino do golfe?
A tecnologia, com certeza. Eu tenho hoje 50 anos e, quando tinha minha idade, meu pai não tinha monitores de análise de tacadas, não tinha equipamentos de 3D. E isso em todos os esportes. Se você olhar a maneira como Pelé jogava futebol, a maneira como se joga hoje é muito diferente. Agora se sabe mais sobre preparação física, dietas, nutrição. Você tem equipamentos de GPS que podem rastrear os movimentos dos atletas. E no golfe é assim também, então temos hoje muita tecnologia e dispositivos que podem nos mostrar exatamente o que o golfista está fazendo, como está batendo na bola, como está se movimentando. E eu, enquanto técnico, posso dizer “veja, essa não é minha opinião, isso é exatamente o que você está fazendo”. Isso nos mostra então duas grandes coisas: a realidade do que o golfista está fazendo e podemos dizer o que ele conseguiria fazer, e quais são suas limitações para alcançar esse objetivo. Podemos pensar em maneiras de superar essas limitações. É um momento muito interessante, porque temos via tecnologia como saber exatamente o que o golfista pode alcançar.

Como é administrar a carreira dos grandes campeões?
É extremamente empolgante! Estar envolvido no esporte profissional em seu nível mais alto é um privilégio. Estar por perto de grandes golfistas, grandes atletas… Fico sempre fascinado como eles conseguem administrar tamanha pressão que têm nas costas. Ver o enorme trabalho que demanda para se tornar um grande campeão é incrível. É recompensador ser parte desse time, acompanhar essa jornada, especificamente do Brooks Koepka. Eu conheci o Brooks quando ele estava jogando o European Challenge Tour e ninguém sabia quem ele era. Ninguém diria que ele seria um grande jogador, e, na última década, ver de onde ele saiu em 2011 para ser o golfista número 1 do mundo em 2019, os sacrifícios e a dedicação que ele teve para alcançar esse nível é realmente empolgante.

O que você aprende com os jogadores de golfe?
Quando você tem a sorte de trabalhar com profissionais como eu tenho, sempre digo que aprendo mais com eles do que eles comigo. Você vê como eles administram suas carreiras, seus treinos e a dedicação que eles têm para chegar no auge. O tanto de trabalho que você precisa para se tornar um CEO, por exemplo, um grande músico ou um grande atleta é incrível.

Foto: Zeca Resendes

Hoje, a tecnologia é mais usada no treinamento de golfe. O que você utiliza com seus jogadores?
Eu abraço toda tecnologia que surge. Desde um monitor de tacadas até um aparelho 3D de movimentos em que você põe os sensores no corpo do golfista para entender o que ele está fazendo. Então qualquer coisa que eu possa usar para que os alunos entendam como podem melhorar no jogo agrega ao meu trabalho. Aí o que eu sempre pergunto é “o que você vai fazer com os dados que você coletou?”. Penso que existem dois mundos, o mundo antigo, em que eu cresci com meu avô e meu pai, que não tinham acesso a esses equipamentos, e um novo mundo, com todos esses aparelhos. Eu não quero abrir mão do mundo antigo e não quero abrir mão do novo mundo. Se você for um professor à moda antiga, que não usa nenhuma tecnologia, você vai perder muita coisa. Mas se você for um professor moderno, que só usa a tecnologia para tomar suas decisões sem olhar para o que era feito lá atrás, também será ruim. Então eu sempre tento preencher a lacuna entre o antigo e o novo, e se você souber se posicionar ali no meio, você vai ter sucesso.

O uso de vídeo no smartphone ajuda de última hora?
Muitos jogadores com os quais eu trabalho estão viajando o mundo inteiro em seus circuitos, e se eu não estou lá, eles me mandam vídeos. As pessoas aprendem visualmente. Então se você vê como está fazendo uma tacada e entende como está fazendo, a tecnologia de vídeo está ajudando e posso dizer que ela foi, sim, um grande avanço para o golfe.

Essa é sua primeira viagem ao Brasil?
Essa é minha primeira viagem para a América do Sul e estou muito feliz por estar aqui. Foi excelente conhecer o São Paulo Golf Club e sua história belíssima. Bobby Jones está em um quadro na parede, outras grandes lendas do esporte já jogaram aqui. Eu adoro conhecer novos lugares e ter novas experiências.

Qual seu conselho para um profissional com problemas no putter ou no drive?
Os golfistas precisam entender o padrão dos seus erros. Muitos amadores e profissionais ficam tempo pensando nas boas tacadas que deram, e, para mim, se conseguir identificar o problema nos seus erros e assim entender onde a bola de golfe está indo, você provavelmente vai entender melhor o que está acontecendo e corrigir o que for necessário.

Qual é o seu principal conselho para um novo jogador amador?
Muitos amadores sofrem com o contato, porque não conseguem bater na bola de forma sólida o suficiente. Eles enfocam demais a direção que a bola está tomando, sua curvatura, e não enfocam tanto o contato do taco com a bola. Se eles acertarem a bola de forma mais sólida, para mim é o que há de mais importante.

Como foi sua participação no Rolex Trophy no São Paulo Golf Club?
É sempre muito especial quando uma empresa como a Rolex me convida para representá-los. A Rolex é uma empresa muito importante para o esporte. Se você olhar o investimento que a empresa faz no golfe e o seu propósito, estão tentando fazer o esporte crescer, com seu envolvimento nos principais torneios do mundo, como Masters e o PGA Tour. E também com o investimento em confederações, no R&A e na USGA. Ela está em todas as partes da modalidade, e faz parte do DNA desse esporte, dos amadores aos profissionais. Como embaixador, dou clínicas e falo sobre o crescimento do golfe. E isso você não vê em todas as empresas. É algo único da Rolex com o golfe, pois ela investe e acredita no golfe como um grande esporte, e por isso é tão bem-sucedida.

 

 

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