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Gary Player – Gosto muito de você, meu querido amigo

por redação

De Gary Player | Tradução Vania Andrade

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Palmer e Gary Player

Arnold Palmer nos deixou, mas continuará nos corações e nas mentes de seus familiares, amigos e fãs para sempre. É difícil aceitar que não compartilharemos mais as nossas risadas ou uma partida juntos, mas isso é o que acontece com o inexorável passar do tempo. A vida é assim.

Acho que a maioria daqueles que acompanham o golfe já sabia que restavam poucos dias a Arnie. Neste ano fiquei orgulhoso dele no Masters, porque tinha conseguido vir pessoalmente apoiar o torneio e assistir ao tee shot inaugural, mesmo não estando bem de saúde.

Antes que o presidente do Augusta National, Billy Payne, anunciasse os nossos nomes, fui até Arnie e disse que dedicaria a ele a minha tacada naquele dia.

Mas o que realmente me comoveu foi quando anunciaram o seu nome, seguido por um verdadeiro clamor da multidão.

Já no ano passado Palmer tinha ido ao Masters em condições difíceis, e em abril deste ano no Augusta quase não conseguia caminhar ou simplesmente ficar de pé, mas, quando o chamaram, se levantou da cadeira e presenteou aos muitíssimos fãs que ali estavam com aquilo que tristemente depois revelou ser a sua última aparição no Masters. Inevitavelmente pensarei naquele momento intenso a cada ano que tiver a honra de voltar ao Augusta pelo resto de minha vida.

“Nesta manhã, Vivienne e eu tínhamos acabado de acordar e recebemos a triste notícia: nosso querido amigo Arnold Palmer tinha falecido serenamente na noite anterior, nos Estados Unidos. Tenho tantas recordações do tempo que passamos juntos em centenas de torneios em todos os cantos do mundo, de inesquecíveis momentos passados com as nossas famílias, e de só nós dois juntos. Arnold representava muito para tanta gente e sem dúvida fez do golfe o que é hoje, um jogo amado e conhecido em todo o planeta. E, para mim, simplesmente um querido amigo há mais de 60 anos. Éramos muito diferentes, mas nossas diferenças nunca interferiram na nossa amizade, que era baseada no absoluto respeito recíproco, e, por isso, sentirei muito a sua falta. Podia ser uma pessoa difícil e intimidadora de se relacionar, no entanto também era dono de um carisma, fascínio e paciência únicos. Arnold Palmer simplesmente transcendia o jogo de golfe, foi fonte de inspiração para milhões de pessoas e sempre viveu intensamente a sua vida. Tinha um estilo impetuoso, permanentemente acompanhado de seu famoso sorriso. Era amado por todos, também se talvez nem o conheciam. Sempre se esforçou, lutou, mesmo quando as probabilidades eram nulas. Nossas orações vão para Kit e toda a sua amorosa família. ‘Muff’, nesta noite brindarei à sua vida e à esperança de um dia nos reunirmos ainda mais uma vez. Descanse em paz. Gosto muito de você, meu querido amigo”.

Esta é a carta escrita de coração aberto que quis dedicar a Arnold no dia em que morreu, e hoje reitero cada palavra. Gostaria de acrescentar muito, muito mais, mas sei que Arnold não permitiria. Vivienne e eu refletimos bastante naquele dia sobre o que significou para a nossa família, pensamos na vida que passamos lado a lado e, principalmente, em quantos momentos indeléveis tivemos a sorte de compartilhar junto com ele.

Veja bem, o fato é que Arnold Palmer não gostaria que na sua morte fosse feito um alarde tão grande. Ninguém pode fugir da morte. Falamos inclusive sobre isso no Augusta neste ano. Alguém poderia dizer que é extraordinário o quanto e como viveu, considerando também o fato que ele nunca cuidou muito bem de si mesmo. Estou convencido de que posso chegar aos 100 anos, mas na verdade nenhum de nós pode saber o que vai acontecer amanhã. E ele com certeza viveu ao máximo cada dia da sua vida, como se fosse o último.

Hoje, aquilo que posso fazer é lembrar com orgulho os belos momentos que passamos juntos, e com ele realmente tive uma infinidade. Sempre me pego falando de minha viagem pelo mundo junto a ele e a Jack Nicklaus, no papel que nós, os “Big Three”, tivemos na promoção do golfe nestes anos. Sem dúvida uma das minhas viagens preferidas foi quando Arnie veio à África do Sul. Era por volta de 1960, não lembro exatamente o ano, e decidiu me visitar. Cresci em Johanesburgo e meu pai trabalhava nas minas de ouro; ele tinha vindo à África do Sul para um safári, jogar um pouco de golfe e passarmos um tempo juntos. Decidimos visitar as minas de ouro onde meu pai tinha trabalhado duramente para nos manter e assim fomos parar em um elevador bem estreito a três quilômetros subterrâneos. Era a primeira vez que o via realmente nervoso. Naquele momento era um homem como tantos outros, mas no momento seguinte nos fez acreditar que era o Tarzan.

O guia nos levou a uma sala cheia de barras de ouro e nos disse que se alguém fosse capaz de pegar uma delas numa mão só, então poderia levá-la para casa. Arnold sempre teve mãos enormes, provavelmente as maiores que já vi de perto. E eram tão fortes. Foi então que me deu uma cutucada e logo pegou uma barra como se não fosse nada. Juro: nosso guia ficou tão pálido que quase desmaiou. Arnold ainda deu pano para manga, contando a ele que teria parado de jogar golfe e deixado a África do Sul como um homem rico com todas aquelas barras que teria levado para casa… obviamente estava só brincando.

Essa é apenas uma das muitas recordações que tenho dele, e todas terão um lugar insubstituível no meu coração para sempre.

“Então, meu querido amigo, eu te digo: não choro porque tudo isso acabou, mas sorrio porque o vivi e tive a honra de fazer parte disso ao teu lado.” 

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