A perfeição dos movimentos, a plasticidade do swing, o som da bola comprimida pelos tacos, além da potência impressionante e do jeito de estar em campo tornam Rory Mcllroy o único jogador da atualidade a se aproximar de Tiger Woods
Rory McIlroy é, na minha opinião, o único jogador da atualidade a se aproximar dos níveis de vossa majestade Tiger Woods. O jovem norte-irlandês, desde os primeiros anos como profissional, entusiasmou o público de todo o mundo, graças ao jeito exuberante de interpretar o golfe. Sempre no ataque, independentemente dos perigos, o esporte para McIlroy parece sempre ser pura diversão.
A perfeição de seus movimentos, a plasticidade do swing, o som da bola comprimida pelos tacos, além da potência impressionante e do seu jeito de estar em campo o tornam o único do mundo no gênero. Vê-lo ao vivo é um espetáculo.
Damo-nos conta de como esse profissional fora de série joga um esporte “diferente” da maioria de seus adversários. Sua estreia no universo dos majors foi emocionante, além de impressionante: com 22 anos venceu o Aberto dos EUA em oito tacadas e o Campeonato PGA em sete, dominando em todo o campo. É claro que, depois de uma façanha do gênero, todos esperavam que McIlroy vencesse pelo menos dois majors por ano e, por que não, que conseguisse também o árduo feito de obter o Grande Slam. Todavia, no mundo real, também existem os adversários e não se pode pensar que vencer um major seja algo fácil e óbvio. Muitas vezes ouvimos falar justamente de suas performances nos torneios do Grande Slam dos últimos anos.
Na maioria dos casos, os especialistas do ramo discutem seu jeito de jogar, as escolhas, caddie etc. Quantas palavras jogadas ao vento: McIlroy “forever” com seus erros e suas vitórias espetaculares! Espero que não mude nunca o jeito desenvolto de jogar e continue nos proporcionando grandes emoções. Quem sabe vencerá algum major a menos de seu potencial, mas, com certeza, no fim da carreira, poderá contar aos filhos que se divertiu muito nos campos de golfe e que o fez a sua maneira.
FICHA
Nascido em 1989, é profissional desde 2007. Conta com 27 vitórias, entre as quais cinco majors (dois Campeonatos PGA, um Aberto dos EUA e um Campeonato Aberto) e três WGC (Bridgestone Invitational, Cadillac Match Play e HSBC Champions). Várias vezes chegou bem perto de conseguir o Grande Slam, ficando a um passo do sucesso também no Masters (melhor colocação: quarto lugar em 2015). Venceu a Race to Dubai três vezes (2012, 2014 e 2015) e a Copa FedEx duas (2016 e 2019). Também participou cinco vezes do time europeu na Copa Ryder, da qual faz parte desde 2010 (quatro vitórias). Foi o número 1 do mundo por 95 semanas entre 2012 e 2015. Atualmente, é o número 3, atrás de Justin Thomas e Jon Rahm
A TÉCNICA
McIlroy está na elite daqueles que lançam mais distante. Em relação aos adversários, o norte-irlandês pesa 15 kg menos e é mais baixo. Então, qual característica lhe permite lançar a bola com facilidade a mais de 300 m? São três as magias durante o swing:
1. A perfeição da sequência cinemática. Estudando os dados de seu swing com o K-West, observamos a passagem perfeita de velocidade entre as partes do corpo: quadris, ombros/braços e, finalmente, taco. Os gráficos de sua sequência constituem há anos as regras do swing moderno.
2. McIlroy cria uma diferença enorme de rotação angular entre ombros e quadris, tanto no ápice quanto na fase de transição, destacando a flexibilidade do corpo. No ápice do backswing com o driver, os ombros estão virados a mais de 110 graus, enquanto os quadris param por volta dos 45. Essa diferença (65 graus) aumenta no downswing no momento em que começa a voltar os quadris rumo ao alvo, resistindo com os ombros. O segredo está justamente na velocidade de rotação de quadris e ombros rumo ao alvo. A velocidade de rotação dos quadris no downswing é de 700 graus no segundo, contra 550 da média dos jogadores do PGA Tour, enquanto com os ombros chegam a 925 contra 720.
3 . O uso do terreno é excepcional. A postura com a qual reparte no downswing cria, em relação à posição inicial, uma diferença de ângulo entre coxa e panturrilha de cerca de 30 graus, a mais alta do PGA Tour.
McIlroy cria, portanto, uma grande compressão para depois desfrutar da melhor maneira do terreno, erguendo-se de novo rapidamente na fase de pré-impacto. Essa ação permite adicionar potência em suas tacadas.
Não podemos esquecer do trabalho físico. Ele aumentou a massa muscular, adicionando ainda mais força às tacadas sem perder a precisão, graças à estabilidade da parte de baixo do corpo. Se McIlroy recebeu todos os dotes citados de Deus, as qualidades físicas atuais são fruto de suor e esforço.
Em todos os torneios que acompanhei, não houve um dia em que McIlroy tenha renunciado à academia, treinos pesados, modalidade que contraria antigas regras da preparação física, quando era desaconselhado o uso de pesos excessivos para evitar perder mobilidade. Se os treinos são bem executados e com constância, o perigo não existe, o importante é ser acompanhado por um bom especialista, para não arriscar criar um físico muito forte, com características de fisiculturista, o que no golfe apenas traria enormes desvantagens.
PONTOS FORTES
Além de todas as características vitoriosas já citadas, Rory é dono de um jogo curto fenomenal. Neste setor do golfe entende-se o quanto jogou desde criança, fase da vida em que é divertido estar na zona de abordagens e experimentar todas as tacadas possíveis com o sand wedge. Sua destreza e inventividade são surpreendentes.
PONTOS FRACOS
Sua exuberância o leva a pagar caro pelos erros, mas faz parte do seu jeito de ver o golfe e razão por que eu pagaria sempre ingresso para ver McIlroy jogar! A adrenalina que flui no corpo antes de dar uma tacada arriscada é impagável. Cabe avaliar sempre se seu sucesso trará benefícios tangíveis. Se a resposta for sim, então “go for it!”.
O QUE IMITAR
Tecnicamente tentar imitá-lo pode ser perigoso! Então, para imitar sua atitude, ande no tee do buraco 1 por diversão! Para os jovens: não é preciso jogar golfe todos os dias, dedique tempo também ao corpo, fortaleça-se e aumente a elasticidade. Assim, lançará a bola mais longe e terá menos acidentes!
A SEQUÊNCIA
1. Posição perfeita: atlética e ao mesmo tempo cômoda e relaxada. Os braços caem de maneira natural, as mãos se encontram abaixo dos ombros e na posição externa em relação aos pés. Spine angle e ângulos das pernas dignos de manual.
2. O taco destaca-se para fora, com as mãos se afastando muito do corpo e erguendo-se bem rápido.
3. O taco continua frontal em relação ao corpo, as mãos agora estão fora do raio do tronco. A vara se encontra exatamente no meio dos braços; geralmente nesta fase está mais próxima do antebraço direito.
4. Os ombros estão a 90 graus, enquanto os quadris ficam quase imóveis. Rory demonstra mobilidade fora do comum.
5. O antebraço direito parece querer empurrar o taco na posição “laid off”, ou seja, para a esquerda em relação ao alvo.
6. Nesta fase final de subida, parte de cima e parte de baixo do corpo vão na direção oposta: enquanto braços e pulsos completam o backswing, colocando o taco no plano perfeito, a parte de baixo já começou a se mover rumo ao alvo. Vale notar o joelho esquerdo que já está empurrando rumo ao alvo.
7. A grande compressão de McIlroy! Observe o quanto aumentou o ângulo entre coxa e panturrilha, em relação à foto 4.
8. A obra-prima “perigosa” de McIlroy! Os quadris retornam em altíssima velocidade, enquanto os ombros resistem. É enorme a mudança de plano entre backswing e downswing: note a diferença com a foto 2. De qualquer modo, o taco se encontra em posição neutra e segura, um pouco acima do antebraço direito.
9. As pernas se endireitam e a cintura sobe poucos centímetros em relação à foto anterior, pegando potência do terreno e passando a velocidade para os ombros que se desviram rapidamente, quase alcançando os ângulos dos quadris.
10. McIlroy não se segura: o corpo libera toda a sua potência na bola e o taco é lançado sem resistência. O ângulo da face se fecha levemente, mas em vista da velocidade com a qual se desloca o taco, é inevitável que isso aconteça nesta fase.
11/12. A tranquilidade depois da tempestade: o corpo relaxa após a grande performance.
Por Alberto Binaghi