Ex-jogador da Seleção Brasileira de futebol, Careca agora investe no golfe
por_ Fernando Viera
Antônio de Oliveira Filho, mais conhecido como Careca, nasceu em Araraquara, interior de São Paulo, no dia 5 de outubro de 1960. Ex-atacante de Guarani, São Paulo, Santos, Napoli e da seleção brasileira de futebol, é atualmente um apaixonado golfista. Quando jogava futebol na Itália e no Japão teve oportunidade de experimentar as suas primeiras tacadas no golfe, mas, por estar sempre ao lado da família e com compromissos de trabalho, não o fez, e agora brinca que está muito arrependido.
Careca recebeu a revista Golf & Turismo no Careca Golf Center, centro de treinamento com campo executivo iluminado de nove buracos de par três, que ocupa toda uma área de driving range, em Campinas, no interior de São Paulo. O projeto do golfe foi de Richard Witte e Juan Silva e possui também putting green e chipping green, numa área de aproximadamente 5 mil m2.
O espaço do golfe fica dentro do Careca Sports Center, inaugurado com a presença do seu amigo Diego Maradona, em janeiro de 1998, ocupando uma área de 58 mil metros quadrados às margens da Rodovia Campinas-Mogi-Mirim. No local há vários campos de futebol, quadras de tênis com piso de saibro, futevôlei, academia, piscina aquecida e coberta, lanchonete, restaurante, auditório e espaço para eventos. Nos planos de investimento do Careca está a construção de uma ou duas quadras de beach tênis e um projeto para aumentar o campo executivo com buracos mais longos, pois hoje é para treino de tacadas curtas, entre 50 e 70 jardas.
O centro de treinamento de golfe existe há mais de 14 anos, quando Careca começou a dar algumas tacadas, mas ele mesmo diz que leva o golfe a sério há dois anos, quando começou a jogar toda semana. O golfe estava terceirizado desde 2004. No início deste ano, Careca assumiu o comando e alterou o nome do espaço filiado à Federação Paulista de Golfe, pelo que os sócios podem ter handicap oficial. Durante a entrevista, ele observava também as condições do campo, conversava com funcionários, ajudava a ver problemas na máquina de cortar green, entre outras novas atribuições de um dono de campo de golfe. “É um trabalho constante para cada dia melhorar os greens e deixar o espaço perfeito para os golfistas. E, para falar a verdade, é mais fácil ser golfista”, brinca, dando umas tacadas com um pitch.
Jogando recentemente em Portugal, na final mundial do WCGC, Careca fez mais alguns planos para o seu golfe. Em vídeo gravado, ele prometeu a amigos portugueses e brasileiros que em um ano vai baixar seu handicap dos atuais 20 para 9 (scratch). Promessa de craque que sempre manteve o foco em todos os esportes que praticou, pois, além do golfe, continua jogando futebol, tênis e ainda gosta de andar de bicicleta. Tudo isso com as sequelas de muitas contusões e um joelho que não ajuda muito, disse Careca.
O craque do futebol brasileiro e mundial fez mais de 315 gols nos seus 21 anos de carreira, sendo 29 pela seleção brasileira em 63 jogos com a camisa amarela. A razão do seu apelido é o também famoso palhaço Carequinha. “Quanto eu tinha 6 ou 7 anos curtia muito o trabalho dele e aí pegou. Tive a oportunidade de conhecê-lo com 26 anos. Ele se maquiou, se arrumou todo e nos encontramos. Foi muito legal”, já contou Careca em mais de centenas de entrevistas, sempre lembrando com muito carinho desse grande artista brasileiro.
Careca começou a jogar futebol em Araraquara e estreou aos 16 anos como profissional no Guarani de Campinas, e em 1978 foi campeão brasileiro, tendo marcado o gol do título. Os 111 gols com a camisa do Guarani lhe renderam a oportunidade de integrar a seleção brasileira comandada por Telê Santana. Entretanto, contusões o impediram de fazer parte do grupo que seguiu para a Copa do Mundo de 1982.
Foi contratado pelo São Paulo em 1983 e em1986, no México, Careca fez cinco gols e foi o vice-artilheiro da Copa do Mundo, atrás de Gary Lineker, da Inglaterra, com seis. Também durante 1986, Careca liderou o São Paulo na conquista do Campeonato Brasileiro, marcando o gol que levou a decisão para a disputa de penalidades e derrotando o seu antigo clube. Com 25 gols, foi artilheiro e eleito o melhor jogador do campeonato.
Em 1987, depois de 191 jogos e 115 gols pelo São Paulo, foi contratado pelo então campeão italiano Napoli, onde foi companheiro de Maradona. Em 1993 Careca deixou a Itália para jogar pelo Kashiwa Reysol, novo time japonês da J. League. Em 1994, ele se transferiu para o Santos, seu clube do coração, e o defendeu em poucos jogos no Campeonato Paulista de 1997. Em 1999, o jogador foi para o São José de Porto Alegre, onde disputou algumas partidas no Campeonato Gaúcho, levando o clube à primeira divisão e encerrando sua carreira profissional.
G&T – Você se lembra de todos os seus gols? Qual foi o mais bonito?
Careca – Sim, com certeza. São muitos gols, mas acho que o mais bonito foi o de bicicleta pela Seleção Brasileira contra a Argentina, em Salvador, em que ganhamos de um a zero. O gol contra a França pela Copa do Mundo também foi bonito e importante. O gol da final contra o Palmeiras foi muito importante. Esse gol da decisão de 1978 foi marcante por tudo. Levamos o Guarani à primeira final de campeonato e enfrentávamos um time grande da capital. Foi o gol do título e que entrou para história do clube. Eu era muito jovem, começando a carreira. Algo inesquecível.
Joga golfe com outros jogadores de futebol?
Meu parceiro de toda semana é o Zé Sérgio, que joga muito bem. O Wagner Lopes, que atualmente é técnico, também é um excelente golfista. Com o Maradona já falamos várias vezes de jogarmos juntos, mas ainda não conseguimos, e também com o Ronaldo Fenômeno. Com o Ronaldo conversamos até de fazer um desafio de golfe entre jogadores de futebol, com a participação de Brasil, Argentina, Itália e Portugal. Essa é uma ideia que precisamos fazer acontecer em breve. Temos outros futebolistas golfistas. O Tita, que joga no Rio de Janeiro e está com handicap bem baixo, Júlio Batista, e acho que o Dagoberto também anda dando suas tacadas.
O “fair play” no golfe é maior que no futebol?
O golfe é um esporte em que o juiz não participa diretamente, bem ao contrário do futebol. É um esporte individual, onde o fair play faz parte das regras e da sua história. Se você fez algo errado, o próprio golfista deve avisar seus companheiros de jogo. Acho muito legal, mas já vi muitas malandragens. É muito mais leal. No golfe não há espaço para a tacada com a mão de Deus, lembrando Maradona. Bem diferente do futebol, com certeza, pois o centroavante sempre quer o gol, e vale até um toquezinho para desequilibrar o zagueiro. Até porque no golfe não há o VAR [Video Assistant Referee], o árbitro de vídeo.
Existe uma relação entre o futebol e golfe?
Os dois são técnicos. Treino é a palavra-chave no esporte. O futebol é repetição. E vale para o futebol e o golfe. O batedor de faltas, como Zico e Rogério Ceni, grandes batedores, treinavam muito e todos os dias, sempre antes ou após o treinamento com os outros jogadores. Sou de família de tenista, comecei no esporte como pegador de bola, e vejo o golfe muito parecido com o tênis, que é um autocontrole, um desafio, uma técnica e não é força. O golfe é desafiante, mas quanto mais você treinar, mais vai evoluir e melhorar.
Quando você começou a jogar golfe?
Comecei realmente a jogar sério [faz] uns dois anos, embora tivesse o golfe no Careca Sport Center há muitos anos. Vinha até aqui e brincava um pouco. Fui conhecendo os campos aqui na região de Campinas, [onde] há campos particulares maravilhosos, lindíssimos. Acabei me interessando mais, pois você caminha, ou até anda de carrinho, mas o legal é caminhar. Tem o paisagismo, tem desafios, tem muita coisa a ver comigo. Tem uma dualidade, pois é tranquilo ao caminhar e ao mesmo tempo emocionante ao acertar as tacadas. E a gente brinca, como se diz no futebol, tem as tacadas de Pelé e as de Mané, e o golfe tem muito disso. Às vezes você bate um drive maravilhoso e tem vez que você arranca um pedaço de grama e a bola não anda nada. E isso acontece com profissionais também, em menor número, mas acontece.
Há vantagens de jogar golfe?
No futebol as lesões são maiores e mais constantes. No golfe bem menos, mesmo entre os profissionais. No golfe não é força, é jeito, é o movimento correto. É o swing. O que faz mandar a bola mais longe são os tacos, não é força. É um esporte que você joga, mesmo jogando meia-boca, com até mais de 80 anos. Como estou com 58 anos, a vantagem é que posso jogar muito golfe e, como disse para os amigos em Cascais, Portugal, em um ano vou baixar meu handicap para 9. Agora é treinar muito.
Como funciona o Careca Golf Center?
Aqui é aberto pra todo mundo, aberto de segunda a segunda. Pode ficar sócio ou só vir jogar ou bater bola. É um centro de treinamento de golfe não só para iniciantes que querem fazer as primeiras aulas, mas também para aperfeiçoar as tacadas curtas ou treinar no driving range. Abre de segunda a sexta, das 8 às 21 horas, sábados e domingos, até às 14 horas, somente como campo. Durante a semana, o campo fica aberto até às 16 horas e depois funciona como driving range. Queremos incentivar o surgimento de novos jogadores e também apoiar o golfe entre as crianças aqui da região de Campinas.