por_ Danny Braz*
No Brasil, quando falamos em gramados esportivos, é quase instintivo pensarmos em um campo de futebol. Somos o país do futebol. Para muitos, em meio às suas primeiras roupas, estava uma camisa da seleção canarinho. Apesar disso, somos uma nação de muitos esportes fantásticos, e um deles tem se tornado muito popular nos últimos anos: o golfe.
Diferentemente do futebol, o golfe ainda enfrenta barreiras estruturais para se tornar popular. Não é só uma questão de apreço pelo esporte, já que quem joga costuma gostar muito da prática. Não é também uma questão de popularidade ou competição com outros esportes. O maior problema é que ainda temos poucos campos de golfe no país, e nem todos são feitos com a excelência necessária para tornar o jogo desafiador e divertido.
O campo de futebol é retangular, varia pouco de tamanho, há alguma variedade de gramado, mas as variáveis na construção são poucas. Já um campo de golfe tem uma complexidade muito maior, pois os diferentes formatos e terrenos fazem parte do desafio do esporte. A diversão também está nessa imprevisibilidade. Isso desafia arquitetos.
É preciso ser artístico. O terreno precisa ser analisado para que o encaixe do percurso se alinhe a ele. O desafio deve chegar a quem é experiente e a quem é iniciante. Atender a dois públicos tão distintos é extremamente complexo. Na maioria dos outros esportes de gramado, o design do terreno tem pouca importância. No golfe ele quer dizer tudo.
Quando o projeto é pensado para um condomínio, por exemplo, ainda há de se considerar o melhor uso e os riscos, sobretudo nas áreas de contatos com a parte residencial. Talvez um dos maiores desafios seja justamente se utilizar de tudo isso para criar um cenário deslumbrante, que encante o jogador. Jogar golfe tem a ver com relaxamento, um estado de tranquilidade.
Por isso, a paisagem é importante. Mais do que uma grama que permita dificuldade e jogabilidade, a vista deve encantar. Essas variáveis tornam difícil avaliar que campos são melhores ou piores. Cada campo busca ser único. É aquela experiência que fica com o jogador. Por esse motivo é um jogo tão interessante.
Claro que há fatores de avaliação comuns que fazem diferença, como a construção e a manutenção. Entretanto, o fator originalidade é tão ou até mais importante. Por fim, o último desafio que os campos de golfe encontram, sobretudo no nosso país, é a irrigação.
O esporte depende de uma irrigação de excelência para funcionar. Uma irrigação de má qualidade tem vida útil curta, gasta mais água, energia, demanda mais fertilizantes, mais mão de obra nas máquinas de corte e sempre exige interferência para estar razoável.
É a água que traz vida ao campo, mesmo escondida abaixo do solo. Um sistema de irrigação de alta qualidade terá um software que comandará todo o processo e fará leitura do clima, recalibrando a quantidade de água necessária para manter a grama saudável. Isso evita desperdícios, aumenta a durabilidade e pode considerar a peculiaridade de cada área do campo.
O golfe, ao contrário de outros esportes de gramado, tem áreas que demandam irrigação diferenciada porque a grama varia e tem funções diferentes no jogo. São até 900.000 m2 de área irrigada. A importância é tanta que é possível perceber que, nas listas de melhores campos do Brasil, os dez melhores sempre contam com a irrigação da mais alta qualidade.
Em suma, o golfe é um esporte que vem ganhando o gosto dos brasileiros, mas os desafios estruturais ainda são grandes. Apesar de tudo, as soluções são simples, só demandam um olhar e trabalho especializado para que se amplie a popularidade do esporte no nosso país.
_ Danny Braz é engenheiro civil, consultor internacional com foco em construções verdes e diretor-geral da empresa Regatec. *