Nasci e cresci no mundo do golfe, pois meu pai foi um profissional, e posso dizer que as dificuldades anos atrás eram ainda maiores que nos dias atuais. Em dezembro passei mais de 14 horas assistindo à Presidents Cup, realizada no Royal Melbourne Golf Club, em Melbourne, na Austrália, mas com uma tremenda dicotomia na torcida. Por um lado, torci individualmente para o monstro Tiger Woods, o qual, como uma fênix, parece ter voltado das cinzas muito melhor do que era. E, por outro, expressei enorme torcida pela jovem equipe internacional, especialmente pelo o jovem chileno Joaquín Niemann, pelo seu tremendo jogo e por ter tido a oportunidade de conhecê-lo pessoalmente há pouco tempo, quando esteve, pela primeira vez, participando de torneios juvenis no Brasil. Nem Tiger e nem Niemann me desapontaram. Tiger mostra por que é o melhor de todos os tempos, e o jovem chileno, junto com seus parceiros Sungjae IM e Ancer , deixou claro que chegaram para ficar na elite mundial do golfe nos próximos anos. Como a maioria dos leitores sabe, a equipe americana acabou revertendo o resultado no último dia ao fazer 16 contra 14 da equipe internacional. Mas poucos se atentaram à evolução da equipe internacional, quando comparamos com o resultado de dois anos atrás no Liberty National Golf Club, em Nova Jersey, Estados Unidos, onde foram massacrados pelos americanos, chegando para o último dia dos matchplay individuais com a contagem 14 ½ a 3 ½, contra os dez a oito a seu favor agora. Nas quase cinco horas em frente à TV no último dia, dos matchplays individuais, fiquei muitas vezes me perguntando se um dia teremos um brasileiro no time internacional, que neste ano tinha jogadores do Canadá, da China, doJapão, da Coreia, da África do Sul e da Austrália, e na versão anterior tinha também da Argentina, da Venezuela e da Índia.
Depois dos jogos e no dia seguinte, que para nós, no Brasil, era ainda domingo, passei o dia lendo tudo que saiu sobre o torneio e também fiquei algumas horas vendo os comentários no Golfe Channel sobre o evento e suas repercussões. Mas uma vez me veio à cabeça a situação do nosso golfe profissional, que venho acompanhando há mais de 50 anos, às vezes muito próximo, pois meu pai se tornou profissional em 1944, quando foi trabalhar no Caxangá Golfe Clube de Recife. Lembrei até um comentário que fiz há tempos sobre a história dele, já que, na minha visão, ele errou o País e século ao se tornar profissional de golfe em Terra Brasilis. Não podemos dizer que não melhorou, uma vez que em 50 anos multiplicamos por cinco o número de campos, mas o que é muito pouco para um país continental como o nosso. Se comparado com o nossa vizinha Argentina, somos quase três vezes menores em números de campos. Se o número de campos limita ou, no mínimo, inibe o aumento de profissionais de golfe, sejam eles professores, staters, caddy metres, funcionários de campo etc, o fato de não termos uma cultura esportiva mais abrangente, na qual só o futebol e o voleibol tem um padrão melhor, segrega as oportunidades de esportes como o golfe. Passados 50 anos, continuamos originando a maioria dos profissionais a partir da função de caddie, que está em vias de extinção ou extremamente dificultada nas maiorias dos clubes, na contramão do mundo que tem seus profissionais vindos das carreiras acadêmicas. E as exceções confirmam esta regra. Perdemos como País o efeito positivo e de alavancagem que as Olimpíadas do Rio de Janeiro de 2016, poderiam ter trazido para o golfe brasileiro. Não podemos negar o esforço que vem fazendo a CBGolfe e Federação Paulista de Golfe, mas precisamos de um engajamento muito maior, seja no apoio dos jovens talentos para que se tornem jogadores profissionais de competição, como também um apoio aos profissionais brasileiros existentes para que se mantenham nesta profissão de forma mais digna possível e por mais tempo, se não cada dia teremos menos jogadores de golfe. Aproveitando o espaço que ainda tenho neste artigo, gostaria de conclamar todos os amantes deste esporte no Brasil, sejam eles jogadores, diretores e presidentes de clubes, de federações, empresários de todas as áreas, jornalistas e formadores de opinião, que ajudem desde a formação de equipes kid´s até a formação de times de alta competição profissional ou amadora. Patrocínios e apoios podem mudar muitas situações. E também chamar atenção de nossas autoridades constituídas, que um campo de golfe em um condomínio ou loteamento, só para dar um exemplo, gera muito mais empregos que a grande maioria das fábricas modernas. Vamos apoiar o golfe brasileiro!