Sergio Garcia, que ocupa o 6º lugar no ranking olímpico e 10º no mundial, recentemente concedeu uma entrevista exclusiva para a Golf & Turismo. Na ocasião, ele comentou que aprendeu a apreciar “coisas banais como saúde, família e amigos. Mas quando entro no tee ainda tenho muita fome de vitória”
por Isabella Callogero | tradução Vania Andrade
Veio ao meu encontro depois de um emocionante 64 encerrado com duas tacadas bombásticas: um drive descomunal e uma madeira 3 que ficou no ar tanto tempo que até pude me colocar estrategicamente na porta atrás do green do 18 do Crans, durante o último Omega European Masters.
Sergio Garcia tem a energia de um “niño”, mas o rosto marcado de um homem maduro. No fundo, é justamente essa sua natureza dupla – a impetuosidade do físico em constante contraste com a calma do olhar – que o torna interessante aos meus olhos; os quais, no entanto, enquanto ele se aproximava de mim sorridente e elegante, são inevitavelmente distraídos por um momento irrecuperável do relógio incrível que ostenta no pulso.
“Para dizer a verdade tenho dois desses” – ele me explica satisfeito –, “são dois Speedmaster Omega. Um é de cerâmica cinza, o outro de cerâmica preta. Este último se chama Dark Side of The Moon e o outro Grey Side of the Moon”. O gelo quebrou.
Uau! Tem o relógio do James Bond! Por acaso tem outras coisas em comum com o agente secreto?
Eu? Em comum com o 007? Infelizmente, a não ser pelos relógios, não tenho realmente nada! Mas gostaria de ter uns dois de seus carros e, quer saber? Gosto de como ele luta. É isso, gostaria de ter a capacidade dele de lutar sempre até o último instante e de nunca se dar por vencido.
É verdade, James Bond não tem medo de nada, ou pelo menos parece que não tem. A propósito, quais são os seus medos?
Agora tenho menos angústias, mas tenho certeza que todo mundo tem as suas. Desde garoto passei por um período em que sentia muito medo: foi quando me tornei profissional. Estava assustado com o futuro que tinha pela frente. Não sabia o que teria acontecido, se seria um bom jogador, se saberia jogar bem, se teria conseguido atender as expectativas que tinham sobre mim. No final diria que tudo correu bem, pelo menos para aquele tipo de medo ou de ansiedade, diria que o superei definitivamente.
Hoje os jovens se tornam profissionais cedo demais?
Cada jovem deve tomar a decisão de comum acordo com a própria família, baseando-se sempre nas diversas circunstâncias. Em relação a mim, é verdade, passei para profissional aos 19 anos, mas todos na minha família achavam que era o momento certo.
Se hoje pudesse encontrar o Sergio daquela época, o que diria a ele?
Obviamente o aconselharia a ficar tranquilo. Que tudo se ajeita. Também diria para tratar bem as pessoas que encontra, porque aprendi que na vida se recebe aquilo que se dá, e é justamente isso que tento fazer sempre. Considerando que me acho muito sortudo por ter a vida que tenho, acho que também é justo dar algo em troca. Na minha pequena experiência tento ser gentil e disponível com quem encontro e nisso a minhafundação me ajuda muito mesmo, fazendo o bem e a caridade.
Existe algo errado que tenha feito no passado e que nunca mais voltaria a fazer?
Algo errado? Todos cometemos erros, até o 007! No fundo ninguém é perfeito. Com certeza também cometi besteiras que não voltaria a fazer, mas acho que é bom errar, principalmente quando se é jovem, porque é o único jeito que se tem para aprender, para entender, para melhorar e, enfim, para seguir adiante na vida.
Tenho o palpite que não se assusta com o passar do tempo…
Diria que não. Já estou por aqui há 35 anos, é muito! Falando sério, busco viver de modo construtivo. Quero dizer, acho que todos aprendemos algo de novo a cada dia, e também é verdade que pessoalmente ainda tenho um monte de coisa para entender e aprender. Não acho que aos 35 anos de vida, como posso dizer, eu já seja um sábio. Tudo bem que, das experiências que vivi, muitas ou cada uma delas fizeram com que eu amadurecesse depressa. Diria que toda essa vivência me indicou o que é realmente importante na minha existência. Do meu ponto de vista, é óbvio que o jogo de golfe desempenha um papel importante, mas cheguei ao ponto em que comecei a apreciar coisas que só aparentemente parecem banais, como a saúde, a família, os amigos. Hoje, muito mais do que ontem, estou definitivamente mais consciente da importância que esses aspectos têm na vida de cada um de nós.
Os tantos anos de Tour mudaram também o seu modo de estar no campo?
Como disse antes, aprendemos alguma coisa todos os dias e, principalmente, aprendemos com os nossos erros. Claro que o golfe me ajudou a amadurecer não somente no campo, mas também fora dele… Comecei minha carreira de jogador profissional aos 19 anos e lembro que, na época, pelo menos no campo, não tinha medo de nada. Quero dizer, quando você é jovem não se preocupa, por exemplo, se tem água no jogo. Dá a tacada e pronto. Isso não significa que hoje eu seja menos agressivo do que antes, mas apenas aprendi com a minha bagagem de experiências a me controlar melhor e a valorizar isso.
Qual é a coisa mais importante que você aprendeu ao longo do caminho, no campo e no dia a dia?
Sinceramente? A ser paciente. Na vida, assim como nos torneios, as coisas acontecem da maneira que devem acontecer. Ponto. Aprendi a encarar tudo com mais filosofia e com mais leveza. Com todo o respeito possível pelo jogo, percebi que no final das contas o golfe não é a coisa mais importante da minha vida.
Como diria Al Pacino, para continuar no topo por muito tempo é preciso ter uma curiosidade perpétua, além de um apetite devastador: ainda os tem? Cada vez que me apresento no tee do primeiro buraco de um torneio fico faminto! O golfe continua sendo minha paixão e o meu grande amor. No fundo continuo jogando para viver e para vencer. Caso nunca tivesse que chegar o momento em que me desse conta que o golfe não me proporciona mais alegria, esse seria o momento certo para me afastar do jogo. No fundo há um tempo foi o que também fiz.
É preciso uma personalidade forte para dar um passo do gênero e isso você tem para dar e vender, como demonstram seus tuítes. Não acha que como personagem público às vezes não deveria ultrapassar aquela linha invisível que existe entre aquilo que se diz e aquilo que teria mantido para si?
Não sei onde diabos fica essa linha. É sério. A única coisa que sinto que posso e devo fazer é sempre ser eu mesmo e dizer aquilo que penso. Esse é o meu modo de viver.
A propósito, quem é o jogador no tour que tem personalidade de sobra?
Fácil. No passado com certeza Severiano Ballesteros; hoje, Tiger. O tour está repleto de jogadores com grande personalidade.
Neste ponto de sua vida, o que poderia fazer ou não e o que mais gostaria?
Olha, posso fazer ou não um monte de coisas. Querer mais? Para quê? A vida já foi e tem sido tão generosa comigo.
Se fosse se casar, quem, entre seus colegas, chamaria para ser seu padrinho?
(Risos) Tenho um monte de ótimos amigos no tour, por isso seria realmente muito difícil escolher um. Vamos fazer o seguinte: te digo quando decidir me casar.
E continua a rir.
Resumindo: Sergio Garcia pode ou não se casar, mas sempre terá amigos; gostaria de saber lutar como o 007, mas ao mesmo tempo encara a vida com tranquilidade; se algo não lhe deixa respirar, muda de ares.
Moral da história: as senhoritas em busca de relacionamentos sérios e estáveis estão avisadas.